INTRODUÇÃO: A Doença de Erdheim-Chester é uma histiocitose não-Langerhans, multisitémica e rara, com cerca de 500 casos descritos. A presença da mutação no gene BRAF V600E leva a inflamação cronica, com excessiva infiltração de histiocitos em múltiplos órgãos. O diagnóstico baseia-se, além da sintomatologia, na detecção da mutação. Várias terapêuticas têm sido utilizadas, mas com sucesso limitado, sendo o prognóstico reservado, com sobrevida aos 32 meses de 40%. Os autores apresentam o caso de um doente com doença de Erdheim-Chester, com evolução de 4 anos antes do diagnóstico.
DESCRIÇÃO DO CASO: Homem de 61 anos, com antecedentes de vasculite de grandes vasos em estudo, ANA 1/160. Iniciou queixas de cefaleia, dor ocular esquerda, astenia e xerostomia, tendo sido observado no SU. À admissão, apresentava xantelasmas; laboratorialmente, elevação de parâmetros de fase aguda; radiografia torácica com aumento de sombra cardíaca. Foi observado por Oftalmologia, com evidência de papiledema, pelo que foi realizada TC de órbitas, com lesões intra-orbitárias a envolver os nervos ópticos, correspondendo a eventuais lesões secundárias. Assim, foi internado para esclarecimento do quadro. Do estudo etiológico, apura-se panvasculite e envolvimento multisistémico: 1) cardiovascular: derrame pericárdico com compromisso hemodinâmico, hipertrofia ventricular esquerda, disfunção diastólica; 2) pulmonar: fibrose pulmonar, derrame pleural bilateral; 3) sistema nervoso central: infiltração bilateral da gordura intracónica, diabetes insipidus, xerostomia; 4) cutâneo: xantogranuloma orbitário; 5) retroperitoneal: hairy kidney; 6) mediastínico: coated aorta. Foi realizada biópsia dos xantelasmas, sugestiva de histiocitose de células não-Langerhans. Para confirmação, foi repetida biópsia com amostra rica em histiocitos, com documentação de mutação BRAF V600E. Sem guidelines terapêuticas, iniciou interferão-alfa peguilado, por ser o fármaco mais estudado neste contexto; por apresentar a mutação, aguarda terapêutica com vemurafenib. Desde o início da terapêutica, apresenta melhoria do estado-geral, melhoria das queixas constitucionais, do cansaço e da xerostomia; mantém, ainda cefaleia e alterações visuais.
DISCUSSÃO: A doença de Erdheim-Chester é uma doença rara, monoclonal, com mutação BRAF V600E em mais de metade dos casos. Os doentes podem apresentar sintomas, virtualmente, de qualquer sistema de órgãos, sendo os mais frequentes o esqueleto, retroperitoneu e órbita, seguidos dos sistemas cardiovascular, pulmonar, neurológico e endocrinológico. Os autores apresentam este caso pela exuberância da sua manifestação, com marcado envolvimento multiorgânico, com detecção da mutação BRAF V600E. Face ao quadro, iniciou PegINF-α, aguardando iniciar vemurafenib. Este caso, fazendo parte do grupo das doenças raras, alerta para a dificuldade de diagnóstico e terapêutica, pela inexistência de guidelines; assim, a suspeição clínica é fundamental para o diagnóstico.