Joana Silva Marques, Rita Dias Soares, Andrea Ladino, Nuno Monteiro, Alex Soriano
INTRODUÇÃO:
As caracteristicas de colite por tuberculose e doença Inflamatória Intestinal (DII) podem ser semelhantes sendo dificil o diagnóstico diferencial. Na impossibilidade de diagnóstico definitivo, deve-se realizar um teste terapêutico.
CASO CLINICO:
Mulher de 36 anos, do Paraguai, recorre ao Serviço de Urgencia por quadro de 2 semanas de evolução de febre, hipersudorese noturna, exacerbação de dor abdominal, vómitos, diarreia e perda ponderal.
Tinha irmã com porfiria aguda intermitente e tuberculose pulmonar. Referia teste de Mantoux negativo em 2013, dor abdominal, vómitos e diarreia intermitentes em estudo desde 2016 (estudo genético e porfirinas negativo) e urticária generalizada auto-limitada em 2017. Negava toma de medicação habitual, alergias medicamentosas e hábitos tóxicos.
Auscultação pulmonar com sibilos bibasais e dor na fossa ilíaca direita e hipogastro à palpação abdominal. Analiticamente com Proteína C reativa 25,79mg/dL, hemoglobina 8,7g/dL microcítica hipocrómica e protrombinemia de 62.1%. Radiografia de tórax com infiltrados bilaterais reticulonodulares. Ecografia com espessamento parietal do cego, cólon ascendente e íleo. Tomografia Computarizada (TC) abdominal com adenopatias mesentéricas, paredes espessadas do cego e íleo, extensa trabeculação adiposa e características de pneumoperitoneu. Cortes torácicos inferiores com focos em vidro despolido e tree-in-a-bud.
Admitida microperfuração intestinal contida por provável DII complicada e doença pulmonar infeciosa. Internada com piperacilina-tazobactam, fluconazol e nutrição parentérica.
TC de tórax com distorção parenquimatosa em ambos lobos superiores e afectação pulmonar difusa suspeitando de sarcoidose. Estudo analitico com VS 85mm/h, eletroforese de proteínas com elevação de todas as globulinas, albumina de 3,0g/dL, ferro de 12µg/dL, ferritina normal, saturação de transferrina 5,7%, anticorpos IgG anti-Saccharomyces cerevisiae >100.0U/mL, ASCA IgA 8.50U/mL. Hemocultivos e urinocultivo negativo. Quantiferon positivo. Cultura de expetoração e 2 coproculturas seriadas com PCR M. tuberculosis. Broncofibroscopia com lavado broncoalveolar que confirmou diagnóstico e citologia com identificação de macrófagos com fundo inflamatório misto.
Iniciou isoniazida, rifampicina, pirazinamida e etambutol. Com melhoria clinica, coprocultura negativa e melhoria radiológica (TC abdominal com transito).
À data de alta assintomática e no primeiro follow-up (18 dias depois da alta), sem clinica respiratória ou abdominal e progressão da dieta.
DISCUSSÃO:
O diagnostico diferencial entre DII e afectação intestinal por M. tuberculosis, não é fácil sendo necessário a confirmação microbiológica e histológica do órgão afetado.
Este é um caso desafiante pelos achados clinicos, analiticos e pela impossibilidade de realização de colonoscopia por perfuração intestinal previa. No entanto, a doente teve uma boa resposta clinica, imagiológica e microbiológica após o inicio dos tuberculostáticos.