Madalena Faria Paulino, Andreia Ribeiro, Ana Nunes, José Barata
Introdução: Em 50% dos casos de tuberculose óssea, coexiste envolvimento vertebral, que condiciona deformações da coluna. Em estadios mais avançados, pode evoluir para abcesso indolor paraespinhal, com escasso conteúdo purulento. A ressonância magnética (RM) facilita o diagnóstico precoce, antes do surgimento dos sinais neurológicos. O diagnóstico definitivo da doença é dado pela positividade da coloração de bacilos e/ou do exame cultural para micobactérias. Este caso pretende alertar para a dificuldade de isolamento de agentes etiológicos e para a relevância da suspeição clínica com o início da terapêutica, minimizando a progressão da doença e respetiva lesão neurológica.
Caso Clínico: Mulher de 34 anos, caucasiana, natural do Brasil, em Portugal há 2 meses, enfermeira, com história de hipertensão arterial, cifoescoliose e mamoplastia redutora. Recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia e tosse seca com uma semana de evolução e de agravamento progressivo. Na semana anterior, tinha drenado suposto quisto sebáceo no dorso, presente há 3 meses, e realizado 7 dias de antibioterapia empírica. À observação: FC 130bpm e diminuição do murmúrio vesicular nos 2/3 inferiores do hemitórax esquerdo. Analiticamente: leucócitos 10,0 103 /µL; PCR 12,21 mg/dl e velocidade de sedimentação: 125mm. Radiografia torácica: extenso derrame pleural esquerdo. Toracocentese com drenagem de líquido pleural purulento, ADA 112.7 UI/L e exames bacteriológico, micológico e citológico negativos. Serologias para HIV e brucelose, IGRA e cultura de exsudado do dorso negativos. A tomografia computadorizada da coluna vertebral evidenciou coleção líquida e gasosa no tecido celular subcutâneo da parede dorsal, sugestiva de abcesso para-vertebral, e lesões osteolíticas nas 9º, 10º e 11º vertebras, com compressão medular. Pelos achados compatíveis com tuberculose iniciou antibacilares, tendo a RM da coluna dorsal confirmado a suspeita de Mal de Pott. Pela presença de cifose de 50º a condicionar instabilidade segmentar na 10ª e 12ª vértebras, verificou-se indicação cirúrgica pela Ortopedia, tendo sido submetida a estabilização vertebral com colheita de caseum, onde se isolou Mycobacterium tuberculosis. Teve alta hospitalar clinicamente melhorada. Reavaliada em consulta de Medicina aos 3 meses, sem evidência de derrame pleural, sem sinais de progressão da doença óssea e com redução da massa paravertebral.
Discussão: Este caso ressalta as particularidades da tuberculose vertebral e a importância do seu reconhecimento precoce, pela elevada morbilidade associada. A identificação do agente etiológico pode ser difícil ou bastante morosa comprometendo o início da terapêutica. Nesta doente, a profissão, a presença da cifoescoliose com destruição óssea, do derrame pleural extenso e da história de abcesso dorsal, determinaram elevada suspeição clínica. A cirurgia encontra-se indicada pelo risco de lesão neurológica.