23

24

25

26
 
CAUSA RARA DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL NO JOVEM
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - E-Poster
Congresso ID: P625 - Resumo ID: 564
Centro Hospitalar Póvoa de Varzim /Vila do Conde, Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, Centro Hospitalar Universitário de São João
Susana Marques de Sousa, Paulina Mariano, Pedro Abreu
INTRODUÇÃO: A etiologia do Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquémico no jovem adulto difere da do idoso, onde as causas mais comuns são o cardioembolismo e a disseção arterial. No passado, sobretudo nos países em desenvolvimento, a doença valvular reumática era uma importante causa de cardioembolismo, mas atualmente, a endocardite bacteriana no contexto de abuso de drogas endovenosas e a presença de foramen ovale patente associado a aneurisma do septo auricular estão a ganhar relevância no AVC no jovem. Os tumores cardíacos, como o fibroelastoma papilar, são fontes cardioembólicas potenciais de AVC no jovem, no entanto, muito mais raras.
CASO CLÍNICO: Mulher de 33 anos, com antecedentes de tabagismo, hipertensão e dislipidemia medicada com bisoprolol 2.5mg e rosuvastatina 5mg. Trazida ao Serviço de Urgência por disartria e hemiparésia direita, sendo desconhecida a hora de instalação dos défices (wake-up stroke). Foi ativada a Via Verde de AVC e à admissão pontuava 23 na escala de NIHSS, correspondendo à síndrome de enfarte total da circulação anterior da artéria cerebral média esquerda (ACME). Realizou tomografia computadorizada cerebral que revelou ténue hipodensidade cortico-subcortical fronto-opercular, temporal lateral e insular esquerda traduzindo lesão isquémica aguda em território da ACME. No estudo angiográfico verificado oclusão do segmento M1 da ACME. Foi transferida para realização de trombectomia mecânica e após procedimento obtida recanalização parcial do vaso (TICI 2b). A tomografia cerebral de controlo às 24h mostrou sinais de transformação hemorrágica. Estabilidade neurológica com NIHSS de 19 à data de transferência da Unidade de AVC para a enfermaria. Do estudo etiológico: analiticamente documentada anemia ferropénica, sem alterações no estudo pró-trombótico ou imunológico; sem eventos arrítmicos em telemetria; e por fim, verificado em ecocardiograma transesofágico, a presença de válvula aórtica tricúspide com espessamento nodular, com cerca de 3-4mm de diâmetro, hiperecogénico ao nível da região central do bordo livre das cúspides aórticas, associado a insuficiência aórtica central de grau moderado. Colocada a hipótese de fibroelastoma da válvula aórtica pelo que foi orientada para Cirurgia Cardio-Torácica para realização de cirurgia um mês após o evento.
DISCUSSÃO: Os tumores primários cardíacos são raros e uma fonte incomum de AVC, tanto no jovem como no idoso. Os fibroelastomas papilares são o segundo tumor cardíaco mais frequente e o tumor valvular mais comum. A válvula aórtica é a mais comumente afetada. A idade média do diagnóstico é de 60 anos e raramente ocorre em doentes jovens. Apesar de histologicamente benignos, podem resultar em complicações deletérias se ocorrer embolização sistémica ou obstrução valvular. Dentro dos sintomáticos, o AVC é a apresentação mais habitual. A resseção cirúrgica é curativa com baixa taxa de recidiva, sendo indicada em todos os doentes sintomáticos.