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UMA COMPLICAÇÃO RARA DE UM PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO FREQUENTE
Doenças respiratórias - Caso Clínico
Congresso ID: CC091 - Resumo ID: 585
Serviço Medicina III, Hospital Pulido Valente, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte
Nádia Simas, João Dias Brás, Inês Gouveia Abundância, Emília Velhinho, Glória Nunes da Silva
O enfisema subcutâneo caracteriza-se pela presença de ar nos tecidos subcutâneos e constitui uma provável complicação de tratamentos dentários. O uso inadequado de equipamentos de ar comprimido, como seringas de ar, turbinas e peças de mão de alta rotação, pode originar a acumulação de ar em espaços fasciais da cabeça e do pescoço e mais raramente com extensão ao mediastino.
Os autores apresentam o caso de uma mulher de 26 anos, que durante a realização de um procedimento odontológico de destartarização, iniciou queixas de aumento súbito de volume da hemiface direita, nas regiões submandibular e infraorbitária direitas associada a dor local e crepitação subcutânea, pelo que recorreu ao serviço de urgência (SU). À observação no serviço de urgência apresentava enfisema subcutâneo da hemiface direita com envolvimento periorbitário e região mandibular. Não apresentava sinais de dificuldade respiratória, nem instabilidade hemodinâmica. A avaliação analítica e electrocardiografica não apresentava alterações. Realizou tomografia computorizada (TC) cervicofacial e torácica com importante quantidade de infiltrado gasoso enfisematoso na região cervical, sobretudo anterior e lateral com distribuição transespacial estendendo-se aos planos superficiais e profundos ao longo dos espaços mastigadores, carotídeos e retrofaringeo, alcançando o mediastino superior no compartimento anterior. Permaneceu em vigilância no SU e foi posteriormente internada no Serviço de Medicina. No internamento manteve repouso, monotorização cardiorrespiratória e iniciou profilaxia antibiótica para mediastinite com amoxicilina/acido clavulânico por 4 dias em internamento e 3 dias em ambulatório. Na reavaliação imagiológica por TC cervicofacial e torácica, verificou-se marcada diminuição do conteúdo aéreo dos espaços parafaríngeos, mastigadores, visceral e no mediastino. Teve alta ao 5º dia de internamento assintomática e hemodinamicamente estável. A maior parte dos casos de enfisema subcutâneo e pneumomediastino descritos na literatura tem relação com traumas da região cervicofacial, porém nos últimos anos o uso inadequado de equipamentos de ar comprimido tem sido casa vez mais relacionados com estas complicações. Traumas mínimos da mucosa oral como lacerações do periósteo, quando expostos ao ar comprimido levam a dessecação dos espaços para e retrofaríngeos, com possível extensão para o mediastino. O tratamento inclui repouso no leito e antibioterapia profilática, geralmente com regressão espontânea do quadro ao fim de 5 a 7 dias. Entretanto, estão descritos casos de óbito por complicações graves como mediastinite, pneumotórax ou tamponamento cardíaco.
Este trabalho pretende realçar a importância do conhecimento de potenciais complicações de alguns procedimentos odontológicos, uma vez que a sua abordagem passa frequentemente pela Medicina Interna (Serviço de Urgência e de internamento), que poderão ter um desfecho desfavorável.