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TROPEÇANDO NO INESPERADO
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P240 - Resumo ID: 590
Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central - Hospital S.José - Medicina 1.4
Rita Valente, Joana Costa Simões, Tiago Pacheco, Margarida Sá Pereira, Luís Borges
Introdução: A fístula aorto-entérica é uma causa relativamente rara, mas potencialmente fatal, de hemorragia digestiva. O seu diagnóstico exige uma elevada suspeição clínica, podendo os achados imagiológicos ser subtis e inespecíficos.
Caso clínico: Homem, 61 anos, leucodérmico, autónomo. Antecedentes de doença arterial periférica - amputação de membro inferior esquerdo (nível da coxa) e bypass aortobifemoral 9 anos antes – e evicção tabágica desde intervenção cirúrgica (60 UMA). Apresenta-se com 4 semanas de mal-estar inespecífico, sensação intermitente de “vazio” abdominal (sem factores desencadeantes), anorexia e tenesmo rectal, descrevendo nos últimos 3 dias sensação febril - não quantificada, sem predomínio horário -, dejecções com características de melenas, diminuição de tolerância ao esforço e lombalgia - de intensidade ligeira, incaracterística, auto-limitada. Laboratorialmente: anemia normocítica/normocrómica (Hb 6.6g/dL), elevação de parâmetros inflamatórios (leucocitose neutrofílica 25.990*109/L / 89.9%; proteína C reactiva 132 mg/L), sedimento urinário “inocente”. Transfundido com 2 unidades de concentrado eritrocitário (boa rentabilidade), permanece clínica e hemodinamicamente estável. Ainda em contexto de urgência, realiza angioTC toraco-abdomino-pélvica, que exclui hemorragia activa, observando-se bypass aortobifemoral ocluído à esquerda.
No internamento, apesar de assintomático, regista-se recorrência de febre (38,5ºC) e agravamento de marcadores inflamatórios. Revistas imagens de angioTC, constata-se densificação dos planos de gordura envolventes a bypass e pequeno pneumatocelo adjacente à bifurcação (sem extravasamento de contraste), sugerindo processo inflamatório/infeccioso associado - iniciada antibioterapia empírica de largo espectro (após exames culturais); solicitado parecer de Cirurgia Vascular. Colocada hipótese de fístula aorto-entérica, procede-se a endoscopia digestiva alta urgente que revela migração de prótese vascular, confirmando diagnóstico. É submetido a intervenção cirúrgica multidisciplinar (bypass axilo-femoral direito, duodenoplastia, Billroth II, agrafagem duodenal), verificando-se evolução global favorável e alta hospitalar.
Discussão: A fístula aorto-entérica secundária a migração de prótese vascular representa complicação tardia de cirurgia da aorta abdominal. Não obstante tratar-se de entidade pouco frequente, associa-se a elevada mortalidade. Deve ser equacionada em indivíduos com esse antecedente cirúrgico (ainda que remoto) e manifestações de hemorragia digestiva (inclusivamente oculta). O processo de investigação exige celeridade (angioTC e endoscopia alta - exames de eleição).