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DESPRESCRIÇÃO EM DOENTES TOTALMENTE DEPENDENTES, APÓS EPISÓDIO DE INTERNAMENTO. QUE REALIDADE?
Medicina Geriátrica - Comunicação
Congresso ID: CO034 - Resumo ID: 603
Serviço de Medicina Interna, Hospital de Braga
Jorge Rodrigues, Ana Oliveira, Ana Sá, Luís Dias, Marta Mendes, Ana Mosca, Inês Gonçalves, Joana Morais, Paulo Medeiros, Barbara Ribeiro, Laura Costa, André Santa Cruz, Carlos Capela
Introdução: No mundo ocidental, estima-se que cerca de 30% dos adultos com mais de 65 anos de idade tenha cinco ou mais medicamentos na sua terapêutica habitual. Embora a polipragmasia possa ser necessária, esta aumenta o risco de efeitos adversos. Nos doentes idosos, classificados como totalmente dependentes, com doenças em estadios terminais, com índices de fragilidade elevados, a redução racional da terapêutica habitual é uma medida suportada por vários estudos. Com efeito, a desprescrição é definida como o processo sistemático de identificação e descontinuação de medicamentos nas situações em que os riscos de lesão superam os benefícios para determinado doente, tendo em conta os objetivos individuais do tratamento, o estado funcional do doente, a expectativa de vida, os valores e as preferências dos doentes. Objetivo: Comparar o número de substâncias ativas na terapêutica habitual dos doentes, na admissão ao internamento num serviço de Medicina Interna, com o número de substâncias ativas no plano terapêutico proposto à data da alta hospitalar, nos doentes idosos classificados como totalmente dependentes para as atividades de vida diária. Métodos: Estudo observacional retrospetivo, de base transversal, realizado sobre a população de doentes internados num serviço de Medicina Interna, entre janeiro e dezembro de 2018, com idade superior ou igual a 80 anos, classificados como totalmente dependentes segundo a escala modificada de Barthel.
Resultados: Dos 1707 episódios de internamento analisados, foram identificados 215 doentes que obedeciam aos critérios de inclusão. O número médio de comorbilidades identificadas por doente foi de 6,9 (DP 2,7). Registou-se que o número médio de substâncias ativas na terapêutica habitual na admissão ao internamento foi de 7,6 (DP 3,7). Já quando analisado o número de substâncias ativas propostas para a terapêutica habitual na data da alta do internamento, verificou-se uma média de 7,5 (DP 3,4), não existindo diferenças estatisticamente significativas (t(214)= 0,411, p= 0,682, d= -0,027) entre o número de substâncias ativas na admissão e na data da alta. Ao restringirmos a análise aos doentes com idade superior ou igual a 90 anos (n=73), verificamos que número médio de substâncias ativas na admissão ao internamento foi de 6,5 (desvio padrão 3,1) e o número médio de substâncias ativas propostas para a terapêutica habitual na data da alta foi de 6,6 (desvio padrão 3,0), não existindo mais uma vez diferenças estatisticamente significativas (t(72)= 0,224, p= 0,824, d= 0,032).
Conclusões: A desprescrição terapêutica ainda não é uma realidade praticada na população de doentes analisada. Sabemos que o número de substâncias ativas na terapêutica habitual dos doentes é o fator preditor singular mais importante de risco de iatrogenia. Com efeito, importa avaliar a possível existência de barreiras à realização da desprescrição, por parte dos médicos, dos doentes e dos familiares e/ou dos cuidadores.