Juliana Sá, Francisco Belém, Artur Costa, João Silva, Céu Evangelista
Introdução:
O Aspergillus é uma infeção oportunista comum em doentes imunossuprimidos e manifesta-se frequentemente com uma imagem radiológica sugestiva com cavitação e sinal do alo. Ocasionalmente, pode surgir como colonizador do pulmão reumatoide. O objetivo da apresentação deste caso de aspergiloma pulmonar é sensibilizar pela manifestação atípica, desenvolvendo-se a infecção no período de resolução de uma pneumonia intersticial sem agente microbiológico identificada numa doente com artrite reumatoide.
Caso clínico:
Apresenta-se o caso de uma mulher de 54 anos, com antecedentes de artrite reumatoide, asma, hipotiroidismo, hipertensão arterial e um internamento recente por choque septico após colecistectomia electiva. Entre a medicação habitual consta metotrexato 5 mg semanal, prednisolona 5mg, montelucaste 10mg e salmeterol com fluticasona. A doente recorreu ao Serviço de Urgência por um quadro de náuseas, vómitos e tonturas com um dia de evolução, associada a febre. Logo na admissão a doente apresentava hipotensão marcada e sinais de má perfusão com necessidade de admissão em UCI e suporte aminérgico. A primeira radiografia de tórax revelou opacidade intersticial do pulmão direito de novo assumindo-se diagnóstico de pneumonia nosocomial. Cumpriu antibioterapia com meropenem durante 12 dias e o estudo microbiológico foi inconclusivo. Após transferência para a enfermaria de Medicina Interna com melhoria do quadro clínico, ao 12º dia de internamento apresenta uma imagem de novo no raio-X de tórax de controlo, com uma lesão cavitada. Na suspeita de lesão tumoral, fez TC tórax com imagem de cavidade de 21mm com parede espessa com alo em crescente, no lobo inferior direito e o estudo do lavado bronco-alveolar realizado por broncofibroscopia revela-se positivo para Aspergillus. A doente teve alta para seguimento em consulta de várias especialidades para tratamento de aspergilose e revisão da terapêutica imunomoduladora dado as várias intercorrências infecciosas sofridas pela doente nos últimos meses.
Discussão:
O caso apresentado é de particular interesse por se tratar do surgimento da imagem típica de aspergiloma durante a fase de recuperação de uma pneumonia nosocomial em doente imunodeprimida. Embora o mais frequente seja o surgimento de aspergilomas nos lobos pulmonares superiores, neste caso, a lesão surgiu num lobo inferior numa localização onde previamente não se identificava lesão. Adicionalmente, o facto de a doente ter Artrite Reumatóide poderia levar a que existissem lesões pulmonares associadas e que justificassem esta colonização, no entanto, esse não era o caso desta doente. Assim é importante, considerar o surgimento de agentes oportunistas sob a forma de infeção ou colonização em doentes imunossuprimidos.