23

24

25

26
 
ABCESSOS HEPÁTICOS E DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL- DE NEOPLASIA A DOENÇA INFECCIOSA
Doenças infeciosas e parasitárias - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO049 - Resumo ID: 634
Hospital de Braga
Luís Dias, Marta Braga, Rosa Carvalho, Duarte Amaro, Andreia Miranda, Vânia Gomes, Céu Rodrigues, Carlos Capela
Introdução
Os abcessos hepáticos e do sistema nervoso central surgem por vezes associados, seja por uma porta de entrada a nível dentário ou mesmo a partir de uma infeção intra-abdominal, endocardite ou outras causas menos frequentes. Descreve-se um destes casos.
Caso clínico
Doente de 58 anos, sem antecedentes de relevo, com quadro constitucional com 3 meses de evolução. Realizou TAC abdominal que revelou trombose da veia porta, dilatação das vias biliares, pequenas lesões hepáticas descritas como secundárias e ascite compatível com carcinomatose peritoneal. Avaliado em consulta de grupo de Radiologia e Cirurgia Geral e excluído tumor de Klatskin, sendo enviado para consulta de Medicina Interna para estudo. Previamente à consulta, doente trazido ao Serviço de Urgência por alterações comportamentais e desequilíbrio na marcha. A TAC cerebral revelou lesão frontal direita expansiva cortico-subcortical a condicionar discreto efeito de massa, com 66mm, e a TAC abdominal volumosas lesões no lobo hepático direito, não captantes de contraste, a maior com 9cm de diâmetro. Associadamente com lesão semelhante de 19mm à esquerda. Mantinha trombose da veia porta e ascite moderada. Comparando com TAC anterior (realizado 6 semanas antes), com crescimento desproporcionado das lesões hepáticas, pouco sugestivo de ser exclusivamente de etiologia secundária, levantando-se hipótese de etiologia infeciosa, mesmo que enxertada em lesões tumorais. Instituída antibioterapia empírica com ceftriaxone e metronidazol e internado.
Realizada drenagem percutânea faseada das coleções hepáticas, com isolamento de Fusobacterium spp e Candida albicans. RMN craniana revelou restrição à difusão de gadolíneo, a sugerir lesões abecedadas, tendo-se titulado antibioterapia para doses meníngeas. Pela não melhoria das lesões, foi realizada exérese cirúrgica de abcesso no lobo frontal direito, sem isolamento microbiológico e sem recidiva deste foco ao longo do internamento.
Observado por Estomatologia que verificou e tratou patologia da cavidade oral, a explicar potencias focos de disseminação sistémica.
O internamento foi prolongado por várias complicações, nomeadamente a necessidade de drenagem cirúrgica de um dos abcessos, pouco acessível por via percutânea, e a complicação posterior com peritonite generalizada.
Isolados Enterococcus faecium e Candida glabrata em material purulento colhido no líquido peritoneal. Cumpriu então antibioterapia com vancomicina e anidulafungina, com boa evolução clínica. Repetida imagem abdominal, com resolução dos abcessos inicialmente descritos. O doente teve alta, sendo posteriormente avaliado em Consulta Externa, sem recidiva de patologia previamente descrita.
Discussão
Este caso demonstra a complexidade da gestão de um doente com múltiplos abcessos intra-hepáticos e do sistema nervoso central. A má higienização dentária e a patologia da cavidade oral constituem, em raros casos, portas de entrada para a formação de lesões abcedadas como as descritas.