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TRÊS APRESENTAÇÕES, A MESMA DOENÇA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P555 - Resumo ID: 646
Hospital Curry Cabral, Centro Hospitalar de Lisboa Central
Jorge Fernandes, Matilde Fraga, Rui Barata, Mariana Popovici, Paolo Iacomini, Ana Catarina Rodrigues, Catarina Pereira, António Panarra
Introdução: A endocardite infeciosa (EI), pouco frequente numa enfermaria de medicina interna, exige elevado grau de suspeita clínica para o diagnóstico. Apresentam-se 3 casos clínicos de EI que demonstram a sua heterogeneidade.

Caso clínico: Caso 1: Homem, 72 anos, com doença renal terminal e nefrostomias bilaterais por uretero-hidronefrose, com infeções urinárias recorrentes. Internado por febre e dispneia, sem outra clínica focalizadora, associado a leucocitose e PCR elevada. Colheu hemoculturas (HC)/urocultura (UC) e iniciou linezolide e meropenem empiricamente (pela pressão antibiótica prévia). Foi isolado Streptococcus (S.) agalactiae sensível a penicilina e clindamicina na HC/UC e dirigiu-se a antibioterapia. O ecocardiograma transtorácico (ecoTT) mostrou estenose da válvula (v.) aórtica e sugeriu EI, confirmada em eco-transesofágico (ecoTE). Substituiu-se cateter de hemodiálise e nefrostomias e o doente cumpriu 6 semanas (sem.) de ampicilina e clindamicina, com resolução ecocardiográfica. Admite-se que o ponto de partida da bacteriemia foi urinário, tendo a doença da v. aórtica favorecido a deposição e proliferação bacteriana, causando EI. Caso 2: Mulher, 42 anos, com 2 episódios prévios de EI de v. mitral nativa a S. viridans (após manipulação dentária), complicados de abcessos cerebrais por embolização sética, 14 e 10 anos antes, motivando colocação de prótese mecânica no 2º episódio. Internada por febre, cefaleia e tosse produtiva. Analiticamente com neutrofilia relativa e PCR elevada. Colheu HC e iniciou empiricamente amoxicilina/clavulanato (A/Clav), alterado para ceftriaxona após isolamento de Aggregatibacter aphrophilus. Realizou ecoTE que identificou 2 vegetações na prótese mitral. Cumpriu 6 sem. de ceftriaxone com resolução das vegetações. Sendo este agente um comensal da orofaringe, admite-se que uma bacteriemia transitória possa ter originado este episódio. Caso 3: Homem, 41 anos, ex-utilizador de drogas endovenosas, negando consumos nos últimos 2 anos. Internado por febre (39,5ºC), mialgias e tosse produtiva, com hipoxemia e radiografia de tórax compatível com pneumonia à esquerda. Colheu HC e iniciou A/Clav e azitromicina. Manteve febre e verificou-se agravamento radiológico, com pneumonia bilateral, esboçando lesões cavitadas. A TC torácica identificou embolização sética. Isolou-se Staphylococcus aureus sensível a meticilina nas HC, sendo a antibioterapia alterada para flucloxacilina. Confrontado, o doente admitiu recorrência recente dos consumos. O ecoTT confirmou a suspeita de EI da v. tricúspide, tendo cumprido 6 sem. de antibiótico.

Discussão: A EI é uma patologia com clínica heterogénea e por vezes inespecífica, identificando-se fatores de risco para diferentes microrganismos e envolvimento valvular, como ilustrado nos casos apresentados. O reconhecimento de sinais e sintomas e um elevado nível de suspeita permitem o diagnóstico precoce e instituição atempada de terapêutica, essenciais para um prognóstico favorável.