Ana Catarina Trigo, Bruno Cabrita, Maria Antónia Galego, Inês Chora, Inês Neves
O tabaco é a substância mais inalada no mundo, seguido da cannabis. Ambos têm sido implicados no desenvolvimento de enfisema de predomínio apical em adultos jovens, com muitos casos apresentando-se como pneumotórax espontâneo. O papel etiopatogénico da cannabis no desenvolvimento do enfisema é de difícil estudo por se tratar de uma droga ilegal em muitos países, com formas de consumo diversificadas e muitas vezes misturada com tabaco, sendo difícil de quantificar. Séries de estudo de pneumotórax espontâneo mostram uma prevalência de consumo de cannabis inalada de 20-38%, com duração média de consumo de mais de 5 anos, havendo relatos de casos com tempos de exposição inferiores. Apresentamos o caso de um homem de 27 anos, fumador ativo de tabaco (carga tabágica de 9 unidades/maço/ano) e ex-fumador de cannabis (cerca de 3 “cigarros”/semana durante 3 anos, quer isolada quer misturada com tabaco), sem outros antecedentes de relevo. Recorreu ao serviço de urgência por dor torácica pleurítica esquerda e dispneia, ambas de instalação súbita. Negava febre, tosse, expetoração e traumatismo. Ao exame objetivo apresentava-se taquipneico, hipotenso, taquicárdico e com diminuição global do murmúrio vesicular no hemitórax esquerdo. A radiografia torácica revelou pneumotórax total à esquerda (Imagem 1), tendo sido colocado dreno torácico. Realizada tomografia torácica para melhor caracterização, evidenciando-se extenso enfisema bolhoso de predomínio apical (Imagem 2). Após estudo foram excluídas outras causas de enfisema, nomeadamente défice de alfa-1 antitripsina, doenças do tecido conjuntivo e imunodeficiências. Por ausência de resolução do pneumotórax com drenagem torácica, foi submetido a cirurgia torácica vídeo-assistida, com realização de pleurodese apical. Os autores destacam o impacto da inalação de tabaco e cannabis a nível pulmonar e a necessidade em esclarecer o respetivo consumo junto dos doentes.