Joana Couto1, Luís Pontes dos Santos1, José Carvalho1, Raquel López1, Carlos Ribeiro1, Miguel Horta2, Diana Guerra1
Mulher, 89 anos. Antecedentes de insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, obesidade, diabetes mellitus tipo 2 e insuficiência venosa periférica.
Recorreu ao Serviço de Urgência por progressão topográfica de lesões maculopapulares de cor violácea presentes nos membros inferiores com 6 meses de evolução e edema simétrico dos membros inferiores até ao joelho, com 2-3 semanas de duração e sinal godet positivo. Alterações previamente consideradas em contexto dermatite de estase por insuficiência cardíaca descompensada e insuficiência venosa. Observada inicialmente por Cirurgia Geral, que após exclusão da hipótese de celulite, transferiu a doente para Medicina Interna por provável dermatite de estase. À observação por Medicina Interna, imagem compatível com Sarcoma de Kaposi (SK) Figura A, B e C com atingimento dos membros inferiores. Foi orientada para Consulta Externa de Dermatologia, onde após biópsia de lesões (proliferação de células fusiformes e fendas vasculares e o estudo imunohistoquímico, CD34+ positivo, marcador das células fusiformes, que são as células endoteliais alteradas pelo HHV8) se confirmou diagnóstico de SK clássico.
O SK é um distúrbio angioproliferativo que se divide em 4 tipos: Clássico (associado ao Herpes vírus humano 8 – HHV8, em homens idosos na bacia do Mediterrâneo), Epidémico (associado ao VIH), Endémico (indígenas da África Subsaariana), Iatrogénico (transplantes e fármacos imunossupressores). O de etiologia clássica é indolente com atingimento cutâneo (máculas violáceas na porção distal dos membros inferiores e progridem muito lentamente evoluindo para nódulos, placas e lesões tumorais) e raramente com envolvimento visceral. É possível evitar a progressão da doença iniciando tratamento com excisão cirúrgica, crioterapia e radioterapia nas lesões locais como o apresentado neste caso. O diagnóstico precoce permite diminuir as complicações da doença.