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DESTA VEZ, NÃO ERA ´SÓ VERTIGEM´... UM CASO CLÍNICO DE AVC CEREBELOSO
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - E-Poster
Congresso ID: P655 - Resumo ID: 687
Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, EPE - Hospital de São José, Medicina 1.4
Carolina Midões, Leonor Soares, Carla Maravilha, Umbelina Caixas, Helena Amorim
Introdução: Tonturas e vertigem são uma causa frequente de admissão no serviço de urgência (SU). As etiologias podem ser várias (cardiovascular, vestibular, neurológica), sendo na maioria benignas e auto-limitadas. Contudo, 3-5% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) manifestam-se com vertigem, sem evidência de sinais neurológicos focais, nomeadamente os que acometem o cerebelo (2% de todos os AVCs). Por estes motivos referidos e pelo facto de que, a tomografia computorizada crânio-encefálica (TC-CE) tem baixa sensibilidade para a detecção de lesões cerebelosas, estes eventos são subdiagnosticados.

Caso Clínico: Homem, 63 anos, caucasiano, com antecedentes de Doença de Meniére e obesidade grau I. Recorreu ao SU por quadro de vertigem, tonturas, náuseas, vómitos e sensação de desequilíbrio da marcha, com desvio para a direita, desde há 5 dias. Agravamento nesse dia, após episódio de stress. Alívio com repouso e com toma de beta-histina. Exame objectivo sem alterações e sem sinais neurológicos focais. Realizada TC-CE que demonstrou: hipodensidade hemisférica cerebelosa póstero-inferior interna direita, cortico-subcortical, com apagamento de sulcos corticais envolvidos. Assumiu-se o diagnóstico de AVC isquémico cerebeloso, ficando internado para vigilância e estudo etiológico. Realizada ressonância magnética crânio-encefálica (RMN-CE), 7 dias após admissão, que confirmou área lesional cortico-subcortical hemisférica cerebelosa posterio-inferior e parassagital à direita, com incipiente efeito de massa sobre o parênquima adjacente. Para esclarecimento da etiologia, foram realizados ecocardiograma transtorácico, ecodoppler transcraniano e dos vasos do pescoço, que não demonstraram alterações. Documentada extrassistolia ventricular frequente em Holter de 24h e hipercolesterolemia (Colesterol total 227mg/dL, LDL 163mg/dL), não conhecida previamente. Admitiram-se como factores de risco para o evento, a obesidade, a hipercolesterolemia e possível pico hipertensivo em contexto de ansiedade/stress. Sem alterações do estado de consciência, teve alta ao 7º dia de internamento, antiagregado e sob estatina em alta dose.

Conclusão: Serve este caso para realçar a importância do diagnóstico diferencial de tontura e vertigem, alertando que esta pode ser a única sintomatologia presente no AVC do cerebelo. Adquire extrema importância a caracterização da duração dos sintomas, dos factores desencadeantes e a pesquisa dirigida de sinais e sintomas auditivos e oculares. Neste doente, acresce ainda maior dificuldade diagnostica, pela Doença de Meniérie já previa, que conduziu à desvalorização da sintomatologia pelo doente. Também destacar, que a TC-CE não é o exame mais sensível à disposição, o que pode atrasar ainda mais o diagnóstico.