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CANABIS, UMA DROGA INOFENSIVA?
Urgência / Cuidados Intermédios e Doente Crítico - E-Poster
Congresso ID: P864 - Resumo ID: 714
Hospital de Braga
Ana Andrade Oliveira; Joana Morais; Olga Pires; Inês Burmester; Margarida Fonseca; Maria João Regadas; Paulo Gouveia;Carlos Capela
Introdução: A cannabis é uma droga recreacional cada vez mais popular entre adolescentes e adultos jovens. É frequentemente considerada segura entre os seus usuários. Os efeitos adversos mais comuns envolvem o sistema nervoso central. Todavia, várias complicações cardiovasculares estão documentadas, sendo os canabinoides sugeridos como percursores de taquiarritmias auriculares. Apresenta-se um caso de uma taquicardia supraventricular induzida pelo consumo de canabinoides inalados num usuário frequente.

Caso clínico: Um homem de 20 anos, autónomo, apresentou-se no serviço de urgência com queixas de palpitações, tonturas e náuseas, com cerca de 1 hora de evolução, que se iniciaram após o consumo de cannabis fumada. Consumia frequentemente canabinoides. Não apresentava antecedentes médicos, cirúrgicos ou medicação habitual. Negava consumo de outras drogas recreacionais e episódios anteriores de palpitações. O exame objetivo era normal à exceção de se encontrar taquicardico (frequência cardíaca 180 batimentos por minuto (bpm)). A investigação laboratorial revelou a presença de canabinoides urinários e uma hipocaliemia. O eletrocardiograma era sugestivo de taquicardia supraventricular com frequência cardíaca de 180 batimentos por minuto. Foi administrada adenosina intravenosa (6mg + 12mg + 12mg), com manutenção do ritmo e frequência. Posteriormente, foi realizada terapêutica com metoprolol (5mg + 5mg) com diminuição da frequência para 120 bpm. Ao final de 2 horas o ritmo reverteu a sinusal com 70 bpm.

Discussão: O potencial arritmogénico da cannabis fumada é conhecido, apesar de pouco reportado. As alterações típicas no eletrocardiograma são consistentes com aumentos da frequência cardíaca e alterações inespecíficas e transitórias das ondas P e/ou T. Estes efeitos cardiovasculares relacionam-se com o efeito bifásico da cannabis no sistema nervoso autónomo. Com uma dose baixa-moderada causa ativação simpática e redução da atividade parassimpática resultando em taquicardia e aumento do débito cardíaco, enquanto em doses elevadas causa inativação da atividade simpática e aumento da parassimpática cursando com bradicardia e hipotensão. Apesar dos seus efeitos cardiovasculares não se associarem a riscos sérios em utilizadores jovens e saudáveis, existem referências a enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e outros efeitos adversos, pelo que se pretende com este caso alertar para os riscos deste consumo, cada vez mais frequente.