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ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO NO JOVEM – O QUE NÃO PODE PASSAR
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P133 - Resumo ID: 70
Hospital Pedro Hispano - Unidade Local de Saúde de Matosinhos
Marília Santos Silva; Ana Ferro, Liliana Carneiro
Introdução: A dor torácica é um motivo frequente de recurso ao serviço de urgência (SU). Com uma prevalência estimada entre 1 a 14% dos doentes com enfarte agudo do miocárdio (EAM), os MINOCA (Myocardial Infarction with NonObstructive Coronary Disease) podem apresentar múltiplas causas devendo a sua busca ser orientada pela história clínica.
Discussão de caso: Refere-se o caso de uma doente de 26 anos com antecedentes de perturbação obsessivo-compulsiva, síndrome do ovário poliquístico (sob anticoncecional oral - ACO) e excesso ponderal. Recorreu ao SU por dor retrosternal tipo peso, muito intensa, de instalação súbita e irradiação dorsal e para o ombro esquerdo, sem fatores de agravamento ou alívio - incluindo nitrato sublingual. Negava relação com o esforço, contexto de stress emocional ou clínica de infeção prévia. Referia 2 episódios semelhantes, mas de menor intensidade, tendo num destes sido avaliada no SU sem alterações analíticas ou no eletrocardiograma (ECG).
Dos exames iniciais, a destacar ECG em ritmo sinusal com baixa voltagem do complexo QRS, sem alterações do segmento ST-T e doseamento de troponina T positivo com perfil ascendente até T12 (9845 ng/L; N< 15,6 ng/L).
Internada para investigação. Apresentou alívio sintomático parcial sob anti-inflamatório.
Realizou ecocardiograma que mostrou função preservada, sem evidência de derrame pericárdico, alterações da cinética segmentar ou outras.
Do restante estudo: sem registo de eventos na monitorização ECG; sem dislipidemia ou diabetes; sem elevação de marcadores inflamatórios; estudo imunológico e serologias víricas e de sífilis sem alterações relevantes; PCR de Parvovírus B19.
Realizou ressonância magnética cardíaca que não confirma miocardite e revela EAM do segmento médio da parede inferoseptal, com coronariografia por tomografia computorizada que exclui doença coronária hemodinâmicamente significativa e mostra baixa deposição de cálcio.
Neste contexto, considerada mais provável uma causa embólica. Após exclusão de trombose venosa profunda dos membros inferiores e estudo imunológico alargado e de outras causas protrombóticas em que se destaca apenas alteração não persistente do anticoagulante lúpico e da antitrombina III, suspenso ACO e realizada hipocoagulação (HC) durante 6 meses. Após suspensão da HC, verificado novo EAM com coronariografia percutânea sem doença angiográfica. Assim, dada indicação para HC ad aeternum.
Conclusão: Este caso relembra-nos da necessidade de excluir aterosclerose mesmo nos doentes sem fatores de risco major, e de pensar em causas protrombóticas, especialmente nos doentes jovens que se apresentem com EAM. Relembra-nos ainda que apesar de não encontrarmos uma causa embólica esta pode estar presente, obrigando à manutenção de hipocoagulação. Em alguns casos, mesmo após estudo exaustivo, não é possível identificar a causa dos MINOCA.