Daniela Barroso, Márcia Cravo, Fabienne Gonçalves, João Araújo Correia
Introdução
A síncope é uma perda repentina, breve e transitória da consciência por hipoperfusão cerebral de origem reflexa, cardíaca ou por hipotensão ortostática. Trata-se de um diagnóstico comum no serviço de urgência muitas vezes pouco valorizado em mulheres jovens.
Caso clínico
Mulher de 31 anos, sem antecedentes significativos.
Sem clínica de relevo até janeiro de 2018, altura em que apresenta um episódio de síncope em ortostatismo, sem esforço significativo prévio, com recuperação da consciência após alguns segundos, sem pródromos associados. Nega outra sintomatologia. Recorre ao serviço de urgência em maio por um segundo episódio de síncope, em esforço de características semelhantes ao primeiro. Ao exame objetivo, bom estado geral, hemodinamicamente estável, sem dessaturação periférica ou hipotensão ortostática. Sem alterações à auscultação cardiopulmonar ou presença de sinais congestivos periféricos. Sem estigmas de doença hepática. Sem alterações ao exame neurológico. Gasimetricamente com alcalose respiratória com hipocapnia. Analiticamente com poliglobolia e hiperbillurrubinemia à custa da direta. ECG com sinais de sobrecarga direita Radiografia do tórax com proeminência das artérias pulmonares e do bordo direito do coração. Pela suspeita de tromboembolismo pulmonar realiza angioTAC que descarta a sua presença. O ecocardiograma transtorácico confirma, por sua vez, a presença de hipertensão pulmonar (HTP) grave, com compromisso significativo da função sistólica do ventrículo direito. Estudo etiológico a revelar perfis tiroideu e renal normais, serologias HIV e vírus hepatotrópicos negativas e estudo imunológico normal; ecografia abdominal a excluir hipertensão portal; cintigrafia pulmonar ventilação-perfusão sem alterações. Pró-BNP elevado. Finalmente foi realizado cateterismo cardíaco que permitiu o diagnóstico de hipertensão pulmonar pré-capilar, com prova de vasorreatividade negativa. Marcha de diagnóstico da HTP com exames complementares de diagnóstico a excluírem causa relacionada com doença cardíaca esquerda, pulmonar e doença tromboembolica crónica. Assumida hipertensão pulmonar do grupo I idiopática de risco intermédio de mortalidade pelo que foi iniciada terapêutica dupla com taladafil e macitentano, com boa tolerância e noção de melhoria clínica.
Discussão
A clínica associada à hipertensão pulmonar é frustre e pouco específica pelo que deve haver um forte índice de suspeição e a síncope de esforço é um dos sintomas de apresentação. Assim, é de extrema importância a correta caracterização sintomatológica associada à observação de potenciais alterações no ECG.