Carla Marques Pires, Sandra I. Correia, Isabel M. Eira, Renata Carvalho, George Chiriac, Cindy Tribuna, Cristina Ângela, Carlos Capela
Homem de 69 anos com hipertensão arterial, insuficiência cardíaca (IC) e artrite reumatóide (AR) medicada com sulfassalazina, como antecedentes de relevo.
Foi internado em Medicina Interna a 15 de Abril por retorragias diárias com 1 mês de evolução associado a dispneia para esforços progressivamente menores, ortopneia, tosse seca noturna e edemas bilaterais dos membros inferiores (MI) até à raiz da coxa, a condicionar a marcha. Analiticamente com anemia normocítica, lesão renal aguda, ligeira trombocitopenia e estudo de coagulação normal. Gasometria sem insuficiência respiratória. O eletrocardiograma evidenciou fibrilhação auricular de novo com CHA2Ds2VASc de 3, não hipocoagulada, face à anemia com necessidade de suporte transfusional e às retorragias diárias. A radiografia pulmonar evidenciava congestão pulmonar com derrame pleural bilateral.
Durante o internamento foi avaliado por Gastroenterologia que diagnosticou patologia hemorroidária submetida a laqueação, com diminuição progressiva das retorragias desde essa data. Adicionalmente, por possível toxicidade medular e hepática foi suspensa a sulfassalazina e iniciada corticoterapia para controlo da AR.
No 10º dia de internamente agravamento clínico, com dispneia em repouso e intolerância ao decúbito, episódio isolado de hemoptises, crepitações dispersas na auscultação. Analiticamente insuficiência respiratória tipo 1 e lesão renal aguda, sem queda de hemoglobina associada. O doente realizou uma tomografia computorizada de alta resolução que evidenciou uma densificação em vidro despolido com distribuição simétrica bilateral associado a derrame pleural. Caso com discussão multidisciplinar (medicina interna, radiologia e pneumologia) face à dúvida entre descompensação da IC ou hemorragia alveolar. A clínica e os antecedentes associados a ausência de queda de hemoglobina, tornaram mais plausível a hipótese de descompensação da IC, sendo que se observou uma resposta favorável após otimização terapêutica.