Bárbara Pedro, Margarida Monteiro, Catarina Pereira, Tereza Patrícia, Fernando Aldomiro
Introdução: O síndrome de Mollaret é uma doença rara, de curso benigno. Trata-se de um síndrome que se encontra associado a sintomas neurológicos transitórios em cerca de metade dos doentes afectados, sendo o principal agente implicado o vírus herpes simples tipo 2.
Caso clínico: Os autores apresentam o caso de um doente do sexo masculino de 53 anos de idade, com história conhecida de Diabetes Mellitus e Hipertensão arterial, que se encontrava em estado de saúde até Setembro de 2017, altura em que é internado assumindo o diagnóstico de Meningite viral, com líquor apresentando 157 células, com predomínio de mononucleares, além de proteínas e glucose normais. A investigação etiológica não detetou agente, em doente VIH negativo, cumprindo 14 dias de aciclovir. Após a alta, em Dezembro de 2017, descreve episódio de febre e cefaleias, que terá durado cerca de 3 dias, com resolução espontânea, motivo pela qual não recorreu aos serviços de saúde. Recorre novamente ao serviço de urgência em Janeiro de 2018 por quadro de cefaleias associado a desorientação e alteração da memória, com estudo de líquor sendo compatível com infeção do sistema nervoso central (61 células, com predomínio de polimorfonucleares, glucose e proteínas normais). Cumpriu inicialmente ceftriaxone em dose meníngea, suspenso após exclusão de etiologia bacteriana e manteve aciclovir. Do estudo complementar no líquor: antigénios capsulares negativos, com Bacteriológico e Micobacteriológico negativo; PCR Mycobacterium tuberculosis negativa; painel vírus negativo (HSV1, HSV2, CMV, EBV, VZV, HPH 6); VDRL negativo; serologias negativas (Borrelia, Mycoplasma pneumoniae, VDRL), PCR Borrelia e Ricketsia negativas; painel de anticorpos anti-neuronais negativos; anatomia patológica sem evidência de células neoplásicas. Serologias séricas negativas (CMV, EBV, Mycoplasma pneumoniae, Borrelia, Rickettsia, Coxiella burnetti, Listeria monocytogenes). Estudo de autoimunidade sérica negativa. Realizou repetição de estudo de líquor após término da terapêutica que não revelou alterações. Do estudo complementar realizou ainda EEG que mostrou atividade lenta com localização hemisférica direita, associada a diminuição da amplitude neste hemisfério. RMN crânio sem alterações. Realizou TAC toraco-abdómino-pélvica e ecografia tiroideia, mamária e escrotal sem evidência de alterações, excluindo possível etiologia paraneoplásica. Mantém seguimento em consulta externa de Medicina Interna, apresentando-se assintomático e sem novos episódios de recorrência.
Discussão: A meningite de Mollaret deve ser suspeita em todos os casos de meningite linfocítica recorrente, sendo o seu diagnóstico laborioso. De qualquer forma, o tratamento com aciclovir pode ser benéfico em diminuir a severidade e a duração dos episódios, bem como na prevenção de episódios futuros.