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UM COMPORTAMENTO ESTRANHO PARA UM DIAGNÓSTICO DIFERENTE
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P550 - Resumo ID: 733
Hospital de Braga
Carla Marques Pires, Sandra I. Correia, Isabel M. Eira, Renata Carvalho, George Chiriac, Cindy Tribuna, Cristina Ângela, Carlos Capela
INTRODUÇÃO:
A encefalite virica é uma infeção do sistema nervoso central, cuja verdadeira incidência é desconhecida devido ao subdiagnóstico.
No âmbito clínico, esta patologia caracteriza-se por alterações comportamentais, da personalidade ou do discurso e sinais neurológicos focais (sensitivos ou motores).

CASO CLÍNICO:
Homem de 45 anos ex-toxicodependente, ex-alcoólico, fumador, infetado por vírus de imunodeficiência humana e vírus de hepatite C e com coxartrose bilateral com prótese total da anca esquerda em 2015 como antecedentes de relevo.
Internado a 26 de Fevereiro no serviço de Psiquiatria por alterações comportamentais de novo associadas alucinações, recusa alimentar e negligência de autocuidados, nomeadamente no controlo de fezes com 2 semanas de evolução. À data de admissão negava consumo de drogas ou álcool. Não apresentava alterações no exame neurológico sumário e na tomografia cranioencefálica não foram identificadas lesões ocupantes de espaço ou vasculares agudas. Durante o internamento face aos antecedentes, foi avaliado por Medicina Interna que pela manutenção do comportamento desadequado após otimização da terapêutica psiquiátrica foi decidido prosseguir com a investigação clínica de forma a excluir patologia orgânica subjacente. Deste modo o doente realizou angiografia por ressonância magnética cranioencefálica que evidenciou nas ponderações tempo de repetição longo múltiplas áreas de hipersinal na substância branca peri-ventricular, subcortical e fronto-temporo-parietal, sem efeito de massa associado. Em acréscimo realizou uma punção lombar que colheu um líquido cefalorraquidiano com hiperproteinorráquia (proteínas 1,53 g/L) e 29 células /uL das quais 82% eram linfócitos. O exame microbiológico foi negativo, as serologias infeciosas (Sífilis, Borrelia, Criptococcus neoformans) foram negativas e o estudo imunológico (Parvovírus, Citomegalovírus-CMV-, Vírus Varicela Zooster, Enterovírus, Vírus Herpes simplex, Vírus Herpes 6, Vírus JC) foi negativo à exceção da pesquisa de Epstein-Barr Vírus (EBV) que foi positiva.
Portanto o doente foi transferido para o Serviço de Medicina interna com diagnóstico de Encefalite vírica por EBV e iniciou terapêutica com Ganciclovir que cumpriu durante 21 dias. Internamento sem intercorrências com melhoria gradual das alterações comportamentais, à data de alta com comportamento adequado sobreponível ao habitual.

DISCUSSÃO:
Face ao número limitado de encefalites víricas por EBV descritas na literatura, nomeadamente na idade adulta, há pouco consenso na abordagem terapêutica, contudo existem casos nos quais o uso de Ganciclovir em doentes imunodeprimidos foi bem-sucedido.
Em acréscimo, alguns autores sugerem que o envolvimento cortical sem acometimento dos gânglios da base é um preditor de melhor prognóstico e menos sequelas.