Bárbara Pedro, Margarida Monteiro, Catarina Pereira, Tereza Patrícia, Fernando Aldomiro
Introdução: Os aneurismos micóticos da aorta torácica são raros, com uma elevada taxa de mortalidade associada, sendo o seu diagnóstico e tratamento cirúrgico atempado imperativo.
Caso clínico: Os autores apresentam o caso de um homem de 36 anos de idade, natural da Guiné-Bissau, a residir em Portugal há 3 anos, sem antecedentes médicos conhecidos, à excepção de abcesso dentário há cerca de 7 anos. O doente encontrava-se em aparente estado de saúde até Agosto 2018, altura em que inicia toracalgia do tipo pleurítico e perda de peso não quantificada, no último mês. Apresentava febre na admissão, com aumento dos parâmetros inflamatórios, assumindo-se Pneumonia Adquirida na Comunidade, complicada de derrame pleural direito, cuja toracocentese resultou na drenagem de líquido sero-hemático, compatível com empiema. Realizou TC tórax que demonstrou uma volumosa massa mediastínica, sendo complementado o estudo por angio-TC que revelou um aneurisma sacular da Aorta Torácica Descendente em rotura contida, sendo transferido para o serviço de Cirurgia Vascular, onde foi submetido a tratamento endovascular com colocação de endoprótese e colocado dreno torácico à direita. Cumpriu antibioterapia empírica com Piperacilina/Tazobactam e Vancomina por 14 dias, com manutenção de febre, sendo re-admitido no Serviço de Medicina, em período de janela antibiótica. Exames bacteriológicos e micobacteriológicos seriados no sangue, expectoração, urina, fezes e líquido pleural, sem evidência de isolamento de agente. Hemocultura para Brucella negativa. Serologias negativas (HIV, VHB, VHC, EBV, CMV, Ricketsia, Campylobacter, Salmonella, Coxiella Burnetti), com agentes atípicos negativos. VDRL negativo. PCR para salmonella e brucella negativas no sangue. Auto-imunidade sérica negativa, com doseamento de IgG4 normal. Realizou Ecocardiograma sem evidência de vegetações, com PET a demonstrar doença metabolicamente ativa e ávida para FDG em topografia pleural direita, com aparente extensão a D8-D9. A RMN da coluna dorsal confirmou evidência de osteomielite D8-D9, realizando biópsia dirigida, com produto microbiológico e micobacteriológico negativo. Enquanto era realizada marcha diagnóstica, cumpriu empiricamente seis semanas de antibioterapia endovenosa com daptomicina, ceftazidima e metronidazol, com resolução dos parâmetros de infeção e da febre. A reavaliação imagiológica torácica manteve exclusão do aneurisma. Mantém-se atualmente em seguimento em consulta de Medicina Interna e Cirurgia Vascular, assintomático.
Discussão: O tratamento emergente da ruptura contida do aneurisma exigiu uma abordagem endovascular, que está inevitavelmente associado a infeção recorrente e a um aumento da morbi-mortalidade.