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DESFECHO INFELIZ NUMA ENDOCARDITE INFECCIOSA POR BACTÉRIA GRAM NEGATIVA NÃO-HACEK
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P202 - Resumo ID: 744
Hospital de Braga
Carla Marques Pires, Sandra I. Correia, Isabel M. Eira, Renata Carvalho, Cindy Tribuna, Cristina Ângela, Carlos Capela
INTRODUÇÃO:
A endocardite infeciosa (EI) associa-se a uma elevada taxa de mortalidade e pode ser provocada por vários microrganismos, a destacar o Staphylococcus spp. e Streptococcus spp. As bactérias Gram negativas são responsáveis por uma minoria dos casos e geralmente incluem-se no grupo HACEK.
Porém, os autores apresentam um caso raro de EI por bactéria Gram negativa não HACEK, de forma a realçar as dificuldades no diagnóstico e na abordagem terapêutica.

CASO CLÍNICO:
Homem de 71 anos com doença renal crónica estadio 3b e cistectomia com derivação de Bricker como antecedentes de relevo.
Internado 28 dias em Urologia por agudização da doença renal associada a hidronefrose bilateral, motivo pelo qual realizou nefrostomia percutânea bilateral.
Durante o internamento por febre com provável foco urinário foi iniciado empiricamente ceftriaxone e colhido rastreio sético, no qual se isolou na urocultura Enterobacter cloacae multissensível, com hemoculturas negativas.
Por falência terapêutica e importante disfunção multiorgânica, escalou-se antibioterapia para Piperacilina -Tazobactam e transferiu-se o doente para a Unidade de Cuidados Intermédios. Por persistência quadro sético associado à deteção de sopro Grau III/VI mais evidente no ápex cardíaco foram realizados ecocardiograma transtorácico e transesofágico que evidenciaram «massa lobulada com cerca de 18mm por 14mm na face auricular do folheto mitral». Foram solicitadas 3 colheitas de hemoculturas que isolaram Enterobacter cloacae produtor de beta lactamases AMPC, mas sensível a carbapenemas e aminoglicosídeos. Portanto, por EI da válvula nativa mitral doente iniciou Gentamicina com Meropenem ajustados à função renal. Nos 14 dias iniciais, resposta favorável e estabilidade hemodinâmica. Após essa data, novo agravamento caracterizado por febre persistente, congestão pulmonar e sistémica e anemia com necessidade de suporte transfusional. Repetidas as hemoculturas e urocultura que foram negativas e o ecocardiograma transtorácico que demonstrou «massa móvel de 27x12mm no folheto anterior mitral associado a insuficiência mitral severa». Por esse motivo, transferiu-se para o serviço de Cirurgia Cardíaca para realização de substituição da válvula mitral por prótese biológica, com preservação do folheto posterior. No 2º dia pós-operatório o doente desenvolveu isquemia aguda do membro inferior direito por embolia sética da vegetação e realizou tromboembolectomia. Infelizmente, faleceu no dia seguinte.

CONCLUSÃO:
O Enterobacter cloacae é uma bactéria Gram negativa não-HACEK e uma etiologia extremamente severa e rara de EI. Atualmente, face ao número limitado de casos, a abordagem terapêutica é pouco consensual, na escolha de antibioterapia e no timing cirúrgico adequado.
No caso em questão o doente apresentou má evolução clínica apesar de antibioterapia dirigida e abordagem cirúrgica aquando a descompensação, realçando a importância de estudos adicionais para melhoria da abordagem terapêutica.