Cláudia Janeiro, Rita Santos, João Teixeira, Pedro Mesquita, Rosário Eça, Raquel Mesquita, Luís Vale, Helena Monteiro
Introdução: As doenças cerebro-cardiovasculares constituem a principal causa de morte em Portugal, representando um alvo de grande atenção por parte dos profissionais de saúde. Em 2014, só o acidente vascular cerebral (AVC) isquémico representou cerca de 20 mil episódios e 250 mil dias de internamento. Tem-se assistido a uma melhoria dos indicadores destas patologias, resultado de uma acção combinada das medidas preventivas, da organização dos serviços de saúde e funcionamento adequado das Unidades de Intervenção em articulação com o sistema de assistência pré-hospitalar de emergência (Vias Verdes AVC e Coronária).
Objectivos: Caracterização da população numa enfermaria de Medicina Interna com diagnóstico de AVC e principais factores associados a mau prognóstico.
Métodos: Análise retrospectiva dos internamentos numa enfermaria de Medicina Interna por AVC de Janeiro de 2014 até Dezembro de 2016 por consulta de processo clínico. Foram recolhidos dados demográficos, antecedentes clínicos e resultados de exames imagiológicos. O prognóstico foi avaliado consoante o grau de dependência e ocorrência de falecimento, pelo que considerou-se mau prognóstico um valor de Rankin superior a 3 à data de alta. Efectuou-se estudo estatístico descritivo, análise uni e multivariável recorrendo ao software SPSS para caracterização destes factores.
Resultados: Foram incluídos 177 doentes, 55% mulheres, idade média 77 +- 11 anos. O AVC isquémico correspondeu a 85% dos casos e os factores de risco vascular mais frequentes foram a hipertensão (87%), dislipidemia (53%) e diabetes (34%); 26% dos doentes apresentava fibrilhação auricular mas apenas 8,5% estava sob anticoagulação. A duração de internamento foi de 14 +- 12 dias, com Rankin 3 +- 2 à data de alta e mortalidade 9,6%.
A análise estatística univariável mostrou que o sexo feminino, idade, dislipidémia, diabetes, fibrilhação auricular, hemisfério direito, complicações infecciosas no internamento e internamento prolongado são factores de mau prognóstico (p<0,05). A análise multivariável mostra que, à excepção do hemisfério direito e da idade, o sexo feminino (OR(95% IC)= 2,4 [1,144-5,169], p= 0,021), dislipidemia (OR (95% IC)= 2,25 [1,071-4,729], p=0,032), diabetes (OR (95% IC)=2,42 [1,114-5,270] , p=0,026), fibrilhação auricular (OR (95% IC)=2,525 [1,103-5,776] ,p= 0,028), tempo de internamento (OR (95% IC)=1,05 [1,008-1,087] , p=0,018) e complicações infecciosas no internamento (OR (95% IC)=8,63 [3,339-22,309], p<0,001) são factores que agravam significativamente o prognóstico do doente com AVC nesta população.
Conclusão: Os dados obtidos encontram-se de acordo com a literatura, destacando-se a importância do controlo dos factores de risco cardiovascular, dado que para além de serem altamente prevalentes na população com AVC, estão também associados a pior prognóstico, nomeadamente maior grau de dependência à data de alta ou morte.