Magda Silva, Carina Ramalho, João Gramaça, Mariana Almeida, Francelino Ferreira, Rúben Reis, Rosário Ginga, Laurinda Pereira, Paula Pona, Anneke Joosten, Fátima Campante
Introdução: A trombose de seios venosos é muito menos comum que outros tipos de evento vascular cerebral, e mais desafiante de diagnosticar pelo amplo espectro de manifestações clínicas e etiologias possíveis.
Caso Clínico: Apresentamos o caso de um homem de 38 anos, leucodérmico, com antecedentes pessoais de perturbação da ansiedade generalizada, com quadro de cefaleia com cerca de 1 mês de evolução e cinco episódios de urgência nesse contexto. Referia cefaleia de localização variável, intensidade flutuante, não associada a náuseas ou vómitos, por vezes com fotofobia, não relacionada com manobras de Valsalva, que agravava após o decúbito e melhorava transitoriamente com a toma de paracetamol. No segundo episódio de urgência realizou Tomografia Computorizada Crânio-Encefálica (TC-CE) onde apenas se destacava pansinusite. Realizou antibioticoterapia e terapêutica tópica mas manteve persistência dos sintomas. Recorreu novamente à urgência, onde se apresentava francamente queixoso, apirético, sem alterações no exame físico e neurológico. Analiticamente salientava-se apenas discreta leucocitose com neutrofilia. Realizou TC-CE e veno-TC onde se assinalava a ausência de visualização de preenchimento da porção proximal do seio transverso esquerdo. Foi iniciada anticoagulação com heparina de baixo peso molecular e solicitada Ressonância Magnética (RM) com veno-RM, onde se visualizava parcial repermeabilização do trombo no segmento proximal do seio transverso esquerdo. Do estudo etiológico em internamento: anticoagulante lúpico positivo, restante coagulação, auto-imunidade e infecciologia negativos.
Discussão: O quadro arrastado de cefaleia intensa isolada (sem alteração do estado de consciência, crise convulsiva, défices neurológicos focais, náuseas e vómitos ou outros sinais de hipertensão intracraniana associados) corresponde a uma apresentação atípica de trombose de seio venoso. Destacamos, por outro lado, a importância de uma história clínica cuidada e detalhada (nem sempre possível em contexto de urgência) e a valorização adequada das queixas do doente com “rótulo psiquiátrico”.