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DERRAME PERICÁRDICO, UM DIAGNÓSTICO A NÃO ESQUECER
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P203 - Resumo ID: 752
Hospital de Braga
Carla Marques Pires, Paulo Medeiros, Cátia Oliveira, Isabel Campos, Rui Flores, Guilherme Mané, Alberto Salgado, Nuno Antunes, Jorge Marques
INTRODUÇÃO:
O derrame pericárdico pode ter múltiplas etiologias, sendo que os estudos demonstram que nos países desenvolvidos até 50% são idiopáticos e 5-15% são associados a doenças inflamatórios ou imunes. O seu impacto clínico depende da rapidez de instalação, do volume e da etiologia.

CASO CLÍNICO:
Homem de 58 anos com múltiplos fatores de risco cardiovascular e episódio de Enfarte agudo do miocárdio (EAM) em 2005 submetido a tratamento conservador como antecedentes de relevo.
No dia 31 de Março de 2018 foi internado no Serviço de Cardiologia por EAM sem supradesnivelamento do segmento ST com doença do tronco comum e de 3 vasos na coronariografia. Por esse motivo foi orientado para cirurgia de revascularização do miocárdio (CABG) que realizou a 9 de Abril sem intercorrências precoces, tendo alta ao 7º dia pós-operatório.
No dia 13 de Junho recorreu ao serviço de urgência por dispneia para esforços progressivamente menores e ortopneia associada a desconforto retrosternal em moedeira que agravava com a inspiração profunda. Encontrava-se taquicardico mas normotenso, com apagamento dos sons cardíacos na auscultação, sem pulso paradoxal. Analiticamente sem leucocitose, sem elevação significativa dos parâmetros inflamatório ou dos marcadores de necrose miocárdica. O eletrocardiograma de admissão não apresentava alterações de novo, contudo o ecocardiograma transtorácico evidenciou derrame pericárdico de grande volume com compressão das cavidades direitas. Por esse motivo realizou pericardiocentese que removeu 1500 ml de líquido pericárdico, caracterizado como exsudado segundo os critérios de Light. No estudo etiológico não houve isolamentos no exame microbiológico nem na pesquisa de micobactérias no líquido pericárdico. Ficou com dreno pericárdico até o dia 16 de Junho com uma drenagem total de 2300ml. Como complemento terapêutico foram realizados anti-inflamatórios não esteroides.
À data de alta, 19 de Junho, doente encontrava-se assintomático, sem alterações analíticas de relevo, com uma fina lâmina de derrame pericárdico no ecocardiograma de controlo. No follow-up de 6 meses e 1 ano o doente encontrava-se assintomático sem recorrência de derrame pericárdico na avaliação ecocardiográfica.

DISCUSSÃO:
O síndrome pós lesão cardíaca consiste numa patologia inflamatória do pericárdio que ocorre após EAM, pericardiotomia ou trauma e para os quais se presume uma patogénese auto-imune induzida pela lesão inicial.
Esta etiologia deve ser diferenciada dos derrames pericardicos pós-cirúrgicos hemorrágicos/transudativos, habitualmente auto-limitados e deve ser considerada nos doentes com derrame pericardico e queixas pleuríticas, febre ou compromisso hemodinâmico nas semanas ou meses após cirurgia cardíaca, uma vez que a sua apresentação pode ser mais tardia.