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POLIGLOBULIA : A IMPORTÂNCIA DA CLÍNICA NUM DIAGNÓSTICO
Doenças hematológicas - Comunicação
Congresso ID: CO087 - Resumo ID: 763
Centro Hospitalar de Trás os Montes e Alto Douro
Ana Oliveira e Costa, Andreia Costa, Manuel Cunha, Fernando Salvador, Paula Marques
INTRODUÇÃO
Policitemia corresponde à anormal elevação da hemoglobina e/ou hematócrito no sangue periférico, podendo ser o reflexo de múltiplas e diferentes patologias. A sua abordagem pode ser exaustiva e multidisciplinar, sendo o equilíbrio entre a clínica e a investigação etiológica essencial.

CASO CLINICO
Homem de 52 anos, ex-fumador (20UMA), com antecedentes de trombose venosa profunda do membro inferior esquerdo aos 45 anos e, 6 meses depois, isquemia arterial do membro inferior direito, submetido a trombectomia e posterior amputação. Medicado com acenocumarol e ácido acetilsalicílico. Sem antecedentes familiares de relevo. Orientado para a consulta de Medicina para estudo de poliglobulia. Sem outra sintomatologia além da trombótica. Da investigação realizada a destacar: Hb 20g/dL, Htc 65.2%, VGM 102fL, com 8700 leucócitos e 171 000 plaquetas; eritropoietina (EPO) 5,2 mUI/mL (2,6-34,0), reticulócitos 1,04% (0.5-2.5%), sem alterações morfológicas dos glóbulos vermelhos no esfregaço de sangue periférico, ecografia sem evidência de hepato-esplenomegalia, biópsia óssea inconclusiva para diagnóstico. Por suspeita de PV realizada pesquisa de mutações V617F JAK2, do exão 14 e 12, que foram negativas, e pesquisa do gene MPL e CALR, também ambos negativos. Avaliação do cariótipo sem alterações. Excluída hipoxia crónica e tumores secretores de EPO: provas respiratórias sem doença pulmonar crónica e estudo do sono sem SAOS, ecocardiograma, TC cerebral e toraco-abdomino-pélvico sem lesões. Excluídas etiologias secundárias de poliglobulia. Paralelamente, pelas tromboses arteriais e venosas excluída ainda trombofilia e síndrome anti-fosfolipídico. Apesar da negatividade da investigação, a suspeita de PV manteve-se pelo que realizou ainda estudo molecular do gene JAK2. Surpreendentemente este revelou uma nova variante JAK2 N1108S, com frequência alélica de 52% que, no presente caso, foi classificada como provavelmente patogénica. Aguarda estudos funcionais para confirmação de mutação germinativa ou somática. Mantém flebotomias terapêuticas regulares para hematócrito < 45%, sem novas intercorrências à presente data.

DISCUSSÃO
Dada a multiplicidade de etiologias que podem estar subjacentes a uma policitemia a sua abordagem pode implicar uma investigação exaustiva assim como, por vezes, um estudo genético diferenciado. No presente caso, apesar da negatividade do estudo etiológico, a clínica e a necessidade terapêutica prevaleceu conduzindo à sequenciação do gene JAK2 e, consequentemente, à identificação de uma variante genética descrita na literatura em apenas um doente com PV. Apesar da incerteza em relação ao seu significado e funcionalidade, esta descoberta poderá abrir portas para a sinalização de novos alvos de doença, sempre com objetivo de um maior conhecimento da doença e melhor abordagem dos doentes.