Introdução: A hipertensão arterial pode ser classificada como primária (ou essencial) ou secundária. Define-se como secundária quando apresenta uma causa identificável, passível ou não de correcção. A doença renovascular é uma causa importante, potencialmente corrigível, de hipertensão arterial secundária que se associa frequentemente a hipertensão de difícil controlo, apesar de terapêutica farmacológica optimizada e a insuficiência renal.
Caso clínico: Doente sexo masculino, 75 anos, obeso, com antecedentes de diabetes mellitus, hipertensão arterial (HTA) com 20 anos de evolução e dislipidémia. Referenciado à consulta de Nefrologia por HTA e proteinúria (0.5 gramas/24 horas). Realizava terapêutica anti-hipertensora, em ambulatório, com telmisartan, hidroclorotiazida, lercanidipina e indapamida, com aparente adesão terapêutica. Contudo, mantinha descontrolo tensional significativo (HTA grau 3), pelo que foi efectuado estudo direccionado às causas secundárias de HTA. O estudo analítico não revelou alterações e o ecocardiograma revelou hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo mas com boa função sistólica global. Foi realizado eco-dopppler das artérias renais que, por ser inconclusivo, foi complementado por angio tomografia computorizada das artérias renais. Este exame revelou ateroesclerose da aorta e das artérias renais, condicionando estenose a nível da artéria renal direita (65%) e da artéria renal esquerda (56%). Foi optado por tentativa de resolução endovascular, tendo-se optimizado a terapêutica farmacológica. No entanto, manteve valores tensionais elevados (HTA grau 1/2), acabando por desenvolver nefropatia hipertensiva que condiciona, actualmente, doença renal crónica em estadio 3.
Discussão: A estenose das artérias renais, de causa aterosclerótica, é uma das causas mais comuns de hipertensão renovascular, pelo que os autores consideram fundamental tê-la em consideração na investigação etiológica de causas secundárias de hipertensão arterial de difícil controlo.