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UM DOENTE, TRÊS EPISÓDIOS DE FEBRE Q AGUDA.
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P460 - Resumo ID: 765
Hospital José Joaquim Fernandes, Beja
Paulo César, Pedro Fortes, Catarina Graça, Vera Guerreiro, José Vaz
INTRODUÇÃO: A Febre Q corresponde a uma zoonose provocada pela Coxiella burnetti. Os seres humanos acabam por ser hospedeiros incidentais e os principais vetores são o gado bovino e caprino, sendo os animais domésticos fontes de surtos urbanos da doença. Tipicamente, pode classificar-se o contexto clínico da doença como aguda ou crónica.
CASO CLÍNICO: Homem de 45 anos de idade, raça branca, autónomo, mecânico de profissão, residente em ambiente urbano, com antecedentes pessoais de hipertensão e doença renal crónica, seguido na consulta de Nefrologia. Trata-se de um doente que esteve internado em 2010, por síndrome febril cuja a repetição dos resultados serológicos (anticorpo IgM C. burnetti fase II positivo) confirmaram o diagnóstico de Febre Q, verificando-se melhoria clínica com o tratamento com doxiciclina. Durante o internamento, não se identificou o vetor de infeção.
Em 2014, apresentou novo quadro de febre, com 4 dias de evolução e com fraca resposta à terapêutica antipirética, sem foco infeccioso evidente. Efetuou-se nova colheita de serologias e iniciou empiricamente doxiciclina, com melhoria sintomática ao fim de 48h. Na reavaliação em consulta após um mês de evolução, verificou-se que os resultados analíticos eram positivos para IgM e IgG C. burnetti fase II, pelo que se assumiu o novo episódio de Febre Q aguda.
Em Novembro de 2018, inicia novo quadro de febre, mialgias e cefaleias, com queixas de tosse não produtiva. Recorreu ao seu médico de família, e várias vezes ao SU, tendo sido submetido a vários ciclos de antibioterapia, sem evidência de um foco infecioso e sem melhoria clínica. Por manter febre nos 4 dias após último ciclo de antibioterapia, decidiu recorrer à equipa clínica que o observou em 2010 e 2014. Ao conhecer o historial do doente, foi feita nova tentativa de identificação de possíveis vetores de infeção por C. burnetti e, paralelamente, pesquisado possíveis focos infeciosos. Contudo, dos exames complementares realizados destacou-se apenas elevação dos parâmetros inflamatórios (PCR-10mg/dL), com granulócitos neutrófilos agredidos e com aumento de formas em banda e resultados positivos para Ac. Anti-C. burnetti IgM e IgG fase II positivos e Ac. Anti-C. burnetti IgM e IgG fase I negativos. Perante todo o historial, foram realizadas novas colheitas sanguíneas e enviadas para INSA (Águas de Moura), que posteriormente confirmaram os resultados obtidos e reforçaram um novo diagnóstico de Febre Q aguda. Concomitantemente, verificou-se nova melhoria clínica com novo ciclo de doxiciclina.
DISCUSSÃO: A infeção por C. burnetti é uma realidade bem presente na Saúde Pública nacional. A investigação epidemiológica é tão importante como o diagnóstico e tratamento correto, de modo a controlar contaminação ambiental da população. Contudo, este caso clínico demonstra que a identificação de possíveis vetores é complexa, principalmente em meios urbanos e em doentes que não exerçam profissões que envolvam contatos com animais.