Helga Vicente, Sara Magno, Liliana Fernandes, João Machado.
Introdução: A cetoacidose diabética (CAD) é uma das complicações metabólicas agudas mais frequentes e graves da Diabetes Mellitus (DM). O seu diagnóstico assenta na documentação de hiperglicemia, acidose metabólica com hiato aniónico aumentado e cetonemia/úria. O seu prognóstico varia de acordo com a sua gravidade e fator precipitante, podendo atingir os 9% na população idosa com múltiplas comorbilidades. 1
Objetivo: Caracterizar a população internada por cetoacidose diabética num hospital distrital nos últimos dois anos.
Material e Métodos: Realizou-se um estudo retrospetivo, observacional, que incluiu todos os doentes admitidos no SU com o diagnóstico de CAD nos anos de 2017 e 2018. Foram utilizados métodos estatísticos descritivos e os resultados são apresentados em percentagem, média e desvio padrão. Os dados foram analisados com recurso ao software SPSS versão 20.0.
Resultados: A amostra é composta por 149 doentes (51% mulheres) com uma idade média de 49.6 ± 21.2 anos. A DM tipo 2 foi o subtipo de diabetes mais prevalente (51%). A maioria dos doentes tinha dez ou mais anos de evolução da doença (58.4%) e estava sob insulinoterapia (55.7%). A HbA1c média à admissão foi de 11.2±2.4%. Em 23 casos a CAD foi a manifestação inaugural da DM, sendo a maioria dos restantes precipitados por infeção (46%) ou por incumprimento terapêutico (43.2%). O bólus inicial de insulina foi prescrito à maioria (74.5%) e 62.4% necessitaram de mais de 12 horas de perfusão insulínica. A hipocaliemia foi a complicação mais frequente e assistiu-se a uma mortalidade de 3.3 %. Relativamente à forma de apresentação, 60 casos (40,8%) apresentaram-se sob a forma de CAD ligeira e 45 (30,2%) sob a forma de CAD grave, sendo que os principais sintomas de apresentação foram náuseas, vómitos e dor abdominal, 70 (47%).
Conclusões: Apesar dos enormes avanços disponíveis para o tratamento da DM, a análise documenta um elevado número de internamentos por CAD. Contrariamente ao esperado verifica-se um predomínio ligeiro de diabéticos tipo 2, refletindo a maior prevalência deste subtipo. Os precipitantes mais comuns foram infeções e incumprimento, fatores evitáveis com uma otimização da educação terapêutica. Apesar de retrospetiva, a dimensão da amostra e número de variáveis avaliadas nesta análise contribui para a melhor caracterização da população portuguesa com DM.