Paulo César, Pedro Fortes, Catarina Graça, Vera Guerreiro, José Vaz
INTRODUÇÃO: A isquemia aguda da medula espinhal é uma patologia rara e potencialmente devastadora. A sintomatologia está diretamente relacionada com o nível de envolvimento medular. O diagnóstico pode ser estabelecido pela clínica, mas um exame de neuroimagem confirma o diagnóstico e excluí outras hipóteses. Os principais fatores etiológicos são: arteriosclerose, embolia, aneurisma e disseção aórtica, doenças degenerativas e sequelas de cirúrgias vasculares ou da coluna vertebral.
CASO CLÍNICO: Mulher de 56 anos de idade, raça branca, autónoma e agricultora de profissão. Referia história pessoal de hipertensão arterial e dislipidemia. Sem medicação habitual. Segundo a doente, realizou esforço físico intenso no seu trabalho e nas 24h seguintes acordou incapaz de mover os membros superiores, motivo pelo qual recorreu ao Serviço de Urgências (SU). Interpretado como quadro possível de discartrose, foi medicada com anti-inflamatórios e referenciada para o seu médico de família, para reavaliação do quadro. Na manhã seguinte, por agravamento clínico com diminuição de força muscular também do membro inferior esquerdo, recorreu novamente ao SU. Ao exame neurológico, destacava-se tetraplegia incompleta, com sensibilidade proprioceptiva preservada bilateralmente e com aparente hipostesia álgica abaixo do nível de C5, sendo mais evidente nos dermátomos torácicos T4-T10. Realizou TC-CE e TC da Coluna Cervical que não demonstraram lesões cerebrais de etiologia isquémica ou hemorrágica, nem hérnias ou sinais de estenose medular cervical. Foi internada, realizou RM da Coluna Vertebral que demonstrou enfarte isquémico da medula em fase subaguda, ao nível C3/C4 e D1/D2, com epicentro no nível adjacente a C5/C6, mais extensa à esquerda. Iniciou fisioterapia com algum benefício, evoluindo para paresia de força muscular grau 4 no membro superior direito e hemiparesia esquerda de força muscular grau 3 e foi referenciada para um Centro de Medicina e Reabilitação.
DISCUSSÃO: A isquemia aguda da medula sendo uma patologia rara torna difícil estabelecer um prognóstico. Segundo a bibliografia internacional, os fatores de piores prognóstico são a gravidade dos sintomas, sexo feminino, idade avançada e ausência de melhoria clínica nas primeiras 24h. A apresentação clínica da doente sugeria um quadro de lesão compressiva da medula e a escolha adequada do exame complementar permitiu chegar ao diagnóstico.