Sofia Gonçalves, Miguel Gonçalves, Nicole Pestana, Francisca Silva, Luís Resende, José Alves, Nuno Canhoto, Graça Andrade, Gil Silva
Introdução: As infecções do trato urinário (ITUs) são as complicações bacterianas mais frequentes nos doentes transplantados renais e são uma das principais causas de complicações após o transplante. Têm efeitos nefastos na sobrevida do paciente e do enxerto. A emergência de resistência aos antibióticos permanece um desafio actual e de significativo impacto clínico. Com este trabalho, os autores pretendem avaliar as características das infecções do trato urinário numa população de doentes transplantados renais, com o intuito de determinar seu o perfil microbiano e os esquemas de antibioterapia utilizados.
Métodos: Foi efectuada uma análise retrospectiva de todas as uroculturas (UC) realizadas numa população de 162 doentes transplantados renais, entre 1 de Janeiro de 2017 e 31 de Dezembro de 2017.
Resultados: Foram examinados os dados referentes a 162 pacientes, seguidos em consulta de pós-transplantação renal do serviço de Nefrologia: a idade média foi de 51 anos e 61.3% eram do sexo masculino. Foram analisadas 1132 UC, tendo-se excluído 2 UC classificadas como “inquinadas”, o que perfez um total final de 1330 UC. Destas, 156 foram positivas (12%) e 1174 foram negativas (88%). No total de UC positivas, foram isolados 169 microorganismos: 164 bactérias e 5 fungos. As bactérias mais frequentemente identificadas foram a Escherichia coli (40.8%), das quais 1.8% eram estirpes produtoras de beta-lactamases de espectro estendido (BLEE) e a Klebsiella pneumoniae (37.8%), das quais 9.1% eram estirpes produtoras de BLEE. De entre as 156 uroculturas positivas, 15 UC (9.6%) corresponderam a doentes internados com o diagnóstico de pielonefrite. Nestes, a bactéria mais frequentemente identificada foi também a Escherichia coli e o antibiótico empírico mais comumente iniciado foi a piperacilina/tazobactam (5 casos), seguido da cefuroxima (4 casos). De realçar que houve necessidade de alteração da antibioterapia, após obtenção do resultado das UC, em 8 dos 15 casos. As restantes 141 uroculturas positivas (90.4%), corresponderam a doentes com o diagnóstico de cistite. Nestas, foram identificadas 136 bactérias, sendo as mais frequentes a Escherichia coli (42%) e a Klebsiella pneumoniae (40.4%). O antibiótico mais frequentemente instituído, nestes pacientes, foi a cefuroxima, seguido pela fosfomicina e em terceiro lugar pela amoxicilina/ácido clavulânico. Foi igualmente analisada a existência de resistências bacterianas aos antibióticos testados. Das 164 bactérias identificadas em cultura, obteve-se um total de 55% bactérias resistentes a 3 ou mais dos antibióticos testados.
Conclusão: As ITUs são frequentes nos doentes transplantados renais e podem ter consequências graves, condicionando significativa morbilidade e mortalidade. Por este motivo, os autores consideram que o conhecimento do perfil microbiológico destes doentes pode auxiliar na seleção do antibiótico empírico a ser instituído, melhorando assim os resultados globais desta população.