23

24

25

26
 
MENINGITE PURULENTA, UMA FALÁCIA DE TERCEIRA CAUSA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P520 - Resumo ID: 780
Unidade Local de Saúde do Alto Minho
Alexandra Esteves, Ana Carvoeiro, Joana Couto, Paula Felgueiras, Diana Guerra, Carmélia Rodrigues
INTRODUÇÃO: A meningite bacteriana é uma urgência neurológica relativamente comum, com elevada morbilidade e morbilidade, devendo o seu diagnóstico e tratamento ser o mais precoce possível. Denomina-se falácia de terceira causa a um tipo de erro lógico frequente em se estabelece uma relação causal entre dois eventos que surgem de forma concomitante, ignorando a presença de um terceiro fator, este sim responsável por ambos.
CASO CLÍNICO: 50 anos. Trabalhador da construção civil. Admitido por febre e cefaleias intensas com 3 dias de evolução, com posterior alteração do comportamento com heteroagressividade e agitação. Estudo imagiológico à admissão (tomografia axial computorizada cranioencefálica – TC CE) inocente, tendo a análise do liquor revelado meningite purulenta (456 células dos quais 156 leucócitos sendo 94% neutrófilos). Medicado com ampicilina, vancomicina, ceftriaxona e dexametasona nas doses recomendadas de forma empírica, com melhoria inicial. Ao terceiro dia de internamento desenvolve hemianópsia homónima esquerda, com aparecimento hemorragias subungueais e lesões de Osler e Janeway palmoplantares, associadas a trombocitopenia grave e lesão renal aguda de novo. Equacionado sopro holossistólico apical grau III/VI descrito à admissão e realizado ecocardiograma transtorácico confirmou a suspeita de endocardite infecciosa (EI), com a observação de vegetação adjacente à válvula mitral com cerca de 3cm. Documentada embolização séptica múltipla com várias áreas de enfarte descritas por TC (cerebral, renal e esplénica) e por observação direta (enfartes a nível da retina bilateralmente). Isolamento de Staphylococus aureus meticilino-sensível nas hemoculturas (HC) da admissão tendo ajustado antibioterapia dirigida com flucloxacilina. Posterior agravamento clínico com desenvolvimento de insuficiência cardíaca com necessidade de ventilação invasiva, tendo sido transferido para centro de referência para cirurgia de substituição valvular. Pós-operatório sem complicações. Manteve antibioterapia dirigida com descida dos parâmetros inflamatórios e HC seriadas negativas, bem como documentação da regressão das várias áreas de enfarte previamente descritas. Manteve seguimento em consulta, tendo reiniciado a atividade profissional sem sequelas à presente data.
DISCUSSÃO: Na EI o processo infecioso desenvolve-se no epitélio endocárdico e a embolização sistémica é comum, implicando a documentação e vigilância apertada das suas complicações iniciais e tardias. Apesar de cerca de 70% dos doentes apresentarem manifestações neurológicas ao longo do curso da doença, a meningite como forma de inicial de apresentação de EI é rara, representando apenas 2% dos casos, particularmente em doentes imunocompetentes e sem fatores de risco conhecidos. Pretende-se salientar a importância da EI no diagnóstico diferencial da meningite bacteriana, assim como a terapêutica adequada precoce no prognóstico destes doentes.