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HEPATITE TÓXICA POR TRAZODONA – UM FÁRMACO COMUM, UMA COMPLICAÇÃO RARA
Doenças hepatobiliares - E-Poster
Congresso ID: P405 - Resumo ID: 792
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Hospital de Vila Real
Rita Queirós, Rafael Jesus, Ana Isabel Barreira, Alberto Marques, Andreia Matas, Sónia Carvalho, Andreia Veiga
INTRODUÇÃO:
A maioria dos antidepressivos tem o potencial de induzir hepatotoxicidade mesmo em doses terapêuticas. A lesão hepática (LH) é idiossincrática, imprevisível e independente da dose. Geralmente apresenta um padrão hepatocelular, mas também pode ser colestático ou misto. O intervalo de tempo entre a ingestão do fármaco e o aparecimento da toxicidade pode variar entre dias a meses. Não é possível prevenir a LH induzida por fármacos, mas a gravidade da reação pode ser minimizada com o reconhecimento precoce e suspensão imediata do fármaco agressor. Apesar de a hepatite tóxica por antidepressivos ser um evento raro, existem casos de insuficiência hepática fulminante secundários à trazodona com necessidade de transplante e morte.

CASO CLÍNICO:
Homem de 74 anos, com antecedentes de hipertensão arterial essencial, dislipidemia e síndrome demencial, que estava internado para vigilância após drenagem cirúrgica de hematoma subdural agudo pós-traumático.
Durante o internamento iniciou trazodona 100mg/dia por insónia e agitação noturna. Seis dias depois constatou-se elevação das transaminases (AST 151U/L e ALT 393U/L) com aumento marcado das enzimas de colestase (GGT 655U/L e fosfatase alcalina 428U/L), sem hiperbilirrubinemia ou alterações da coagulação. Não existia história de doença hepática prévia e o estudo analítico da admissão era normal. Devido à relação temporal entre a introdução da trazodona e o aparecimento de novo de citocolestase assintomática, suspendeu-se de imediato o referido fármaco.
As serologias para vírus hepatotrópicos (vírus Hepatite B, C e E, Citomegalovírus, vírus Herpes Simplex e vírus Epstein-Barr) foram negativas; autoimunidade foi negativa e os estudos de ferro e cobre foram normais. A ecografia abdominal excluiu sinais de doença hepática crónica ou obstrução biliar e demonstrou permeabilidade da veia porta e das veias supra-hepáticas. Para avaliar a causalidade entre a LH e o fármaco, utilizou-se a escala CIOMS / RUCAM que indicou uma relação “provável” com a trazodona.
Nos 3 dias seguintes evoluiu com melhoria paulatina da citólise hepática, mas com agravamento da colestase (até máximo de GGT 760U/L e FA 529U/L). Em consulta de reavaliação duas semanas depois apresentava resolução da citólise hepática e melhoria discreta da colestase. Um mês depois apresentava enzimologia hepática normal.

DISCUSSÃO:
Os autores consideram este caso de especial interesse pela sua raridade e pretendem aumentar a consciencialização dos clínicos para a possibilidade de ocorrer hepatotoxicidade severa secundária à trazodona, mesmo com apenas alguns dias de tratamento. A maioria dos casos são clinicamente assintomáticos e as alterações das transaminases e/ou enzimas de colestase são os únicos elementos que podem levantar a suspeita de LH induzida pelo fármaco. Salienta-se a importância de monitorizar a função hepática durante o tratamento com trazodona a fim de evitar complicações fatais.