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QUANDO OS SINGULTOS DÃO CHOQUE
Doenças cardiovasculares - Imagens em Medicina
Congresso ID: IMG117 - Resumo ID: 806
Centro Hospitalar do Baixo Vouga
Mariana Teixeira, Joana Ricardo Pires, Tiago Rabadão, Filipa Ferreira, Tiago Adrega, João Fonseca, Clarinda Neves, Rosa Jorge
Doente do sexo masculino, 74 anos de idade, com antecedentes de lúpus eritematoso sistémico, síndrome anti-fosfolipídio secundário e miocardiopatia dilatada idiopática, clinicamente estável, submetido a implantação de CDI monocameral para prevenção primária, com sonda ventricular de fixação ativa.
Recorreu ao Serviço de Urgência uma semana após a colocação do CDI por choque enquanto vestia a manga esquerda da camisa, sem outros sintomas peri-evento. Referia sensação abdominal semelhante a singultos com início na noite anterior. Do exame objetivo, destacavam-se a ausência de reprodução do choque quando vestia e despia a camisa e a presença de contrações abdominais sugestivas de estimulação diafragmática, sem manifestação electrocardiográfica de captura ventricular. O ECG demonstrava ritmo sinusal sem condução ventricular mediada por pacemaker e não apresentava alterações analíticas de relevo.
Na interrogação do CDI, o choque decorreu em resposta a um ritmo ventricular rápido (240 bpm) e irregular, após antitachycardia pacing ineficaz. A sonda ventricular estimulava o diafragma com baixas voltagens, sem a respetiva captura ventricular e apresentava leitura da atividade ventricular com baixa amplitude, sinais sugestivos de afastamento do elétrodo do seu posicionamento ventricular.
A radiografia do tórax confirmou o diagnóstico, demonstrando a deslocação do eletrocatéter ventricular para anatomia auricular. O doente foi submetido a reposicionamento de eletrocatéter, sem intercorrências e sem novas terapias desapropriadas.
A deslocação de eletrocatéter ventricular ocorre em menos de 1% dos portadores de dispositivos cardíacos e pode resultar na ausência de terapia anti-bradicardia e anti-taquicardia, choques inapropriados, disritmias ventriculares malignas e estimulação diafragmática. Este caso ilustra como uma anamnese atenta, um exame objetivo dirigido, uma integração clínica cuidada e uma simples radiografia conduziram ao diagnóstico desta entidade clínica.