Ana Luisa Azevedo, Ana Raquel Fontes, Edgar Amorim, Olinda Sousa Caetano, André Santa Cruz, Sofia Rocha, Carlos Capela
Introdução: A nefropatia de IgA é caracterizada pela presença de depósitos imunes mesangiais de IgA, e é a mais comum glomerulonefrite causadora de doença renal crónica (DRC), sobretudo em doentes abaixo dos 40 anos. O seu espectro clínico é variável, desde hematúria microscópica assintomática e auto-limitada, a glomerulonefrite rapidamente progressiva ou progressão lenta para doença renal terminal em cerca de 50% dos casos.
Caso clínico: Apresenta-se o caso de um doente de 76 anos, homem, com antecedentes de acidente vascular cerebral, hipertenso, diabético, com doença renal crónica em estadio 3 (creatininemia basal 1.8 mg/dL), bronquite crónica e anemia, internado por lesão renal aguda (LRA) em crónica e infecção do trato urinário. Inicialmente apresentou alguma melhoria da LRA com fluidoterapia mas, logo depois, apresentou LRA rapidamente progressiva, não oligúrica, hematúria macroscópica e agravamento da anemia para 7.3 g/dL (à entrada 9.4 g/dL). Sedimento urinário com eritrocitúria e proteinúria associadas. Sem outras perdas hemáticas, sem critérios de hemólise. Serologias víricas e imunes negativas, HbA1C 5.8%. Evoluiu com agravamento progressivo (creatinina 5.9 mg/dL), e, por apresentar sinais de hipervolemia e redução do débito urinário, apesar das medidas instituídas, foi necessário suporte dialítico. Nesta altura foi submetido a biópsia renal que mostrou alterações compatíveis com nefropatia de IgA e lesões associadas de nefrite tubulo-intersticial. Iniciou corticoterapia na dose de 1 mg/Kg. Inicialmente sem melhoria mas no início da 2ª semana de tratamento a lesão renal apresentou melhoria lenta mas sustentada, sem necessidade de técnica dialítica adicional. O doente manteve valores de creatinina estáveis (creatinina 3.5 mg/dL), sem necessidade posterior de diálise, mantendo seguimento em consulta de Nefrologia.
Discussão: Os autores pretendem realçar a particularidade deste caso de glomerulonefrite num doente idoso com DRC estabelecida, além da importância da investigação etiológica rigorosa. A biópsia renal teve um papel preponderante e essencial na decisão de iniciar tratamento, obtendo-se uma boa resposta clínica e analítica à corticoterapia instituída.