Cristina Carvalho Gouveia, Rita Veríssimo, Sofia Duque, Luís Campos
Introdução
A trombose venosa profunda é rara em indivíduos com idade inferior a 50 anos, mas está associada a elevada morbilidade. O estudo etiológico é essencial para o correcto tratamento e profilaxia de novos episódios nestes doentes.
Caso Clínico
Doente do sexo masculino, 21 anos de idade, ex-fumador (4 unidades de maço por ano), com dislipidemia (colesterol total 410mg/dL) e edema peri-orbitário de novo ao acordar com cerca de 2 semanas de evolução. Sem medicação habitual em ambulatório. Recorreu ao serviço de urgência por dor e edema da face posterior da perna esquerda. À observação, com edema da perna esquerda godet +. Analiticamente, a destacar: creatinina 0.73mg/dL, proteínas totais 4.0g/dL, urina II com proteinúria nefrótica (proteínas > 4.0g/L) e Hb ++. O eco-doppler venoso revelou trombose venosa profunda (TVP) aguda/subaguda da veia popliteia esquerda. O doente teve alta com o diagnóstico de TVP secundária a síndrome nefrótica, iniciou apixabano e perindopril e foi referenciado a Consulta de Nefrologia. Do estudo etiológico realizado destaca-se: função renal sem alterações, albumina 1,8 mg/dL, complemento, ANAs, ANCAs, ENAs e antidsDNA normais, cadeias leves sem alterações, serologias virais negativas, urina II com hemato-proteinúria nefrótica, relação proteína/creatinina 6025 mg/g e relação albumina/creatinina 4588 mg/g. Foi realizada biópsia renal, que foi compatível com glomerulosclerose focal e segmentar. Iniciou corticoterapia mas, tendo se verificado corticorresistência após 12 semanas, foi realizado switch para ciclosporina.
Discussão
A síndrome nefrótica é caracterizada pela presença de proteinúria, edema, hipoalbuminémia e dislipidemia. Os doentes têm um risco aumentado de trombose venosa profunda, trombose renal e tromboembolismo pulmonar, sendo a hipoalbuminémia um factor de risco independente para fenómenos trombóticos. O estado de hipercoagulabilidade parece estar associado a uma excreção aumentada de factores antitrombóticos e aumento da produção de factores protrombóticos pelo fígado. Sabe-se que o risco é mais elevado nos primeiros 6 meses da doença e, embora a maioria dos casos se apresente em doentes com diagnóstico estabelecido, este caso mostra a importância de considerar esta patologia aquando do diagnóstico diferencial de um doente que se apresenta com trombose venosa sem factores de risco aparentes.