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SÍNDROME DE ENCEFALOPATIA POSTERIOR REVERSÍVEL, UMA ENTIDADE SUBDIAGNOSTICADA
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - E-Poster
Congresso ID: P628 - Resumo ID: 813
Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca
Marta Fonseca, Mário Ferreira, Zélia Neves, João Machado
Introdução: A síndrome de encefalopatia posterior reversível (PRES) caracteriza-se clinicamente por cefaleia, convulsões, alterações visuais e do estado de consciência. Imagiologicamente traduz-se por edema vasogénico simétrico occipito-parietal. Os sintomas habitualmente remitem com a resolução do fator precipitante. Surge associada a várias patologias. Embora a sua etiologia não seja clara, parece ocorrer alteração da permeabilidade da barreira hemato-encefálica por diversos fatores tais como a variação aguda da pressão arterial. O seu reconhecimento tem ganho importância com o desenvolvimento das técnicas imagiológicas.

Caso clínico:
Mulher, 46 anos, empregada numa escola, com antecedentes de hipertensão arterial, recorre ao serviço de urgência (SU) por quadro com 12h de evolução de cefaleia holocraniana, intensidade 10/10, associada a diminuição da acuidade visual e vómitos. Nega febre, rinorreia, otalgia, odinofagia ou outra sintomatologia. Refere introdução recente de montelucast e prednisolona por quadro de urticária.
À observação destaca-se: TA 188/97mmHg, apirexia, pupilas isocóricas e isoreativas, sem seguir o observador e sem reflexo de ameaça, com rigidez da nuca. Sem outros défices neurológicos. No SU foi objetivada crise convulsiva tónico-clónica generalizada. Realizou Tomografia Axial Computorizada (TAC) e angioTAC crânio-encefálica (CE) que não revelaram alterações. Analiticamente sem alterações a destacar nas análises gerais, VIH e VDRL negativos. Na análise do líquor: 7 células com predomínio de polimorfonucleares, hiperproteinorráquia (66,38mg/dL) e 94mg/dl de glicose. Com perfil tensional mais controlado, mas mantendo tendência para hipertensão arterial, apresenta melhoria das queixas de cefaleia e vómitos. Mantém visão turva, por vezes com imagem de pontos vermelhos dispersos no campo visual bilateralmente e rigidez da nuca. Sem alterações ao exame oftalmológico, colocou-se a hipótese de que as alterações visuais poderiam corresponder a focos epiléticos occipitais. Contudo, o electroencefalograma não revelou atividade paroxística. Realizou Ressonância Magnética Nuclear (RMN) CE que mostrou focos de hipersinal em T2/FLAIR na substância branca subcortical nos lobos occipitais. Pelos achados clínicos e imagiológicos assumiu-se o diagnóstico de PRES. O estudo para excluir outras causas associadas a PRES foi negativo. Após controlo tensional, a doente apresentou melhoria progressiva das queixas visuais. Realizou RMN CE de controlo 1 mês após com resolução imagiológica completa.

Discussão: A PRES é uma entidade pouco frequente, muitas vezes só confirmada imagiologicamente por RMN CE. Perante um quadro clínico sugestivo, uma TAC normal não exclui o diagnóstico. A relação entre PRES e hipertensão arterial é conhecida, sobretudo associada e variações tensionais abruptas. No caso descrito, a introdução recente de corticoterapia pode ter contribuído para a crise hipertensiva. A pesquisa doutras condições associadas foi negativa.