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POLIMEDICAÇÃO NUMA ENFERMARIA DE MEDICINA INTERNA: UM ESTUDO RETROSPECTIVO
Medicina Geriátrica - Comunicação
Congresso ID: CO036 - Resumo ID: 818
Hospital de São Francisco Xavier, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental
Cristina Carvalho Gouveia, Mafalda Miranda Baleiras, Sofia Duque, Luís Campos
Introdução
O envelhecimento da população está associado ao aumento da prevalência de doenças crónicas, tendo a prescrição medicamentosa um papel essencial na abordagem destes doentes. Contudo, os riscos associados à polimedicação, nomeadamente efeitos adversos dos fármacos, interacções medicamentosas e diminuição da adesão terapêutica podem interferir negativamente na vida dos doentes, pelo que devem ser cuidadosamente analisados.

Objectivo
Avaliação de doentes internados numa enfermaria de Medicina Interna e comparação de doentes polimedicados com doentes não polimedicados, relativamente a estado funcional prévio, número de complicações e mortalidade durante o internamento.

Métodos
Estudo retrospectivo dos doentes internados de Janeiro a Março de 2017. Foram definidos dois grupos de doentes, de acordo com o número de medicamentos à data de admissão hospitalar: grupo A – sem polimedicação (menos de 6 medicamentos) e grupo B – com polimedicação (6 ou mais medicamentos).

Resultados
Incluídos 262 doentes. 55.7% estavam polimedicados. O número médio de medicamentos à data de admissão no grupo A foi 3.2 e no grupo B 9.4. Os medicamentos mais prescritos no grupo B foram: inibidores da enzima conversora da angiotensina e antagonistas dos receptores da aldosterona (66%), inibidores da bomba de protões (61%), antidislipidémicos (57%), diuréticos (51%) e antiagregantes plaquetários (45%). Os doentes do grupo B apresentaram: idade média superior (79.0 vs A: 71.5 anos), índice de Charlson médio superior (5.5 vs A: 4.0 pontos) e maior percentagem de doentes provenientes de lar (17.5% vs A: 3.5%). De acordo com a avaliação funcional sumária, os doentes do grupo B apresentaram maior prevalência de dependência funcional (59.7 vs 32.5%). Durante o internamento, o grupo B apresentou maior número médio de complicações (1.9 vs A: 1.1), maior incidência de delirium (6.2 vs A: 1.7%) e maior taxa de mortalidade (14.4% vs A: 12.9%). Adicionalmente, 2.1% dos doentes do grupo B tiveram como diagnóstico secundário iatrogenia medicamentosa (vs A: 0%). À data de alta, o número médio de medicamentos no grupo A foi 4.8 e no grupo B 9.8.

Conclusões
Neste estudo, a polimedicação foi frequente e pareceu estar associada a maior grau de dependência nas actividades de vida diárias e a maior número de comorbilidades e de institucionalização prévia dos doentes. O grupo polimedicado apresentou maior número médio de complicações e maior incidência de delirium e de iatrogenia medicamentosa durante o internamento. Adicionalmente, a prevalência de polimedicação aumentou desde a admissão até à alta. É essencial uma revisão criteriosa da medicação dos doentes, constituindo o internamento uma boa oportunidade para o realizar.