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GAMAPATIAS MONOCLONAIS – QUAIS OS CRITÉRIOS ANALÍTICOS DE GRAVIDADE? A REALIZAÇÃO DE ASPIRADO MEDULAR TRARÁ SEMPRE BENEFÍCIO?
Doenças hematológicas - Comunicação
Congresso ID: CO086 - Resumo ID: 824
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Rita S. Gomes, Mafalda Ferreira, José Bernardes Correia, Armando Carvalho
Introdução: As gamapatias monoclonais (GM), associadas a um vasto espectro de entidades clínicas, resultam da proliferação de um clone de plasmócitos e consequente produção de uma imunoglobulina clonal (componente M). A Mayo Clinic sugere a estratificação do risco das GM de acordo com a quantidade e isotipo do componente M, considerando como características de baixo risco: IgG <1.5mg/dL e rácio cadeias leves livres normal; IgM <1.5mg/dL. No estudo das GM, além da avaliação destes parâmetros analíticos, tem de se considerar a presença/ausência de critérios CRAB (hipercalcémia, insuficiência renal, anemia e lesões ósseas líticas) ou de sintomatologia suspeita.

Objetivos: Estratificar o risco das GM segundo os critérios Mayo Clinic; Avaliar os critérios para realização de aspirado medular.

Material e métodos: Estudo observacional, descritivo e retrospetivo. Identificação dos doentes internados no Serviço de Medicina Interna, no ano de 2017, com diagnóstico de GM. Recolha dos dados através da consulta da nota de alta e dos exames complementares.

Resultados: Obteve-se uma amostra de 46 doentes, com idade média ao diagnóstico de 76,7±11,1 anos e dos quais 63% (n=29) eram do sexo masculino. Em relação à caracterização da gamapatia, o isotipo G foi o mais frequente (65%, n=30), seguido do A (15%, n=7). Aplicando os critérios Mayo Clinic, verificaram-se, maioritariamente, GM de baixo risco (74%, n=34). Em 33% (n=15) dos doentes a gamapatia era um antecedente conhecido, sendo que em 67% (n=31) dos casos o diagnóstico foi realizado no referido internamento. Neste último grupo de doentes, 71% (n=22) apresentaram GM com critérios analíticos de baixo risco, que foram estudadas com aspirado medular em 68% (n=15). Destes, cerca de 53% não apresentavam critérios CRAB nem sintomatologia suspeita. Por outro lado, nas gamapatias com parâmetros analíticos de gravidade (29%, n=9), que constituem só por si indicação para estudo medular, este foi realizado em 67% (n=6). Do total das 46 gamapatias analisadas, a maioria cumpriu critérios de Gamapatia Monoclonal de Significado Indeterminado - MGUS (80%, n=32).

Conclusão: As GM sem critérios analíticos de gravidade foram as mais frequentes. Estas apresentaram-se, maioritariamente, sem sintomatologia suspeita ou critérios CRAB acompanhantes, culminando com o diagnóstico de MGUS. Numa percentagem considerável dos casos, o resultado do aspirado medular não veio alterar a orientação do doente. Nesse sentido, poder-se-ia ter evitado a realização de um procedimento que é invasivo e, por isso, não desprovido de riscos. Nesses casos, poderia ser protelado, mantendo-se a vigilância analítica do componente M. Embora ainda não haja recomendações definidas, alguns autores defendem uma atitude menos interventiva perante as GM de baixo risco, que privilegia a vigilância.