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FIBRILHAÇÃO AURICULAR NUM SERVIÇO DE MEDICINA – CASUÍSTICA DE UM SEMESTRE
Doenças cardiovasculares - Comunicação
Congresso ID: CO162 - Resumo ID: 825
ULSM - Hospital Pedro Hispano
Sara Moreira Pinto, Mário Bibi, Alda Tavares, Cristina Rosário, Rute Morais Ferreira
Introdução
A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais frequente. Está associada a um risco acrescido de morte, acidentes vasculares cerebrais e internamentos, redução da qualidade de vida e ainda aumento de disfunção ventricular esquerda, sendo responsável por cerca de 10-40% das hospitalizações.

Objetivo
Caracterização da abordagem e do outcome dos doentes admitidos num internamento de Medicina Interna por FA; caracterização da população de doentes com FA e suas comorbilidades; análise da prática clínica: hipocoagulação e contraindicações.

Material e métodos
Estudo retrospetivo com análise dos doentes internados entre abril de 2014 e junho de 2015 num Serviço de Medicina Interna em que o diagnóstico de FA foi inaugural ou constituiu um dos motivos de internamento. Excluíram-se os doentes cuja FA não constituiu um problema ativo durante o internamento. Recolha de vários dados epidemiológicos, clínicos e analíticos. Análise estatística com recurso ao Excel® e SPSSv25®.

Resultados
Foram analisados 969 internamentos, dos quais 236 cumpriam os critérios de inclusão. Sessenta e seis por cento dos doentes eram do sexo feminino e a média de idades foi 77 anos. Cerca de 90% dos doentes eram autónomos (62%) ou apenas parcialmente dependentes (28%). A comorbilidade mais frequente foi a hipertensão arterial essencial (84%), seguida da dislipidemia (64%), diabetes mellitus tipo 2 (40%) e a cardiopatia isquémica e valvular (45%). Quarenta e um por cento das FA foram inaugurais, sendo que 53% tiveram FA classificada como permanente à data da alta e 24% FA paroxística. Em 86% dos doentes foi decidida a estratégia de controlo de frequência, sendo os fármacos de eleição o bisoprolol (22%), carvedilol (22%) e a digoxina (58%). Em 4% dos casos foi alterada a estratégia ao final de 48 horas. À data da alta, a mediana dos scores CHA2DS2-VASc foi 4 com um máximo de 9 e o HAS-BLED com mediana de 2 com máximo de 5. Sessenta e quatro por cento dos doentes saíram hipocoagulados, dos quais 72% com antagonistas da vitamina K, 7% com Dabigatrano, 12% com Apixabano. Do total dos doentes, 31% tinham contraindicações ao início da hipocoagulação, sendo que a mais prevalente foi o risco de queda. Vinte e seis por cento morreram no primeiro ano, destes, 10% no internamento e 14% nos primeiros 6 meses após a alta. Apenas dois doentes tiveram complicações hemorrágicas no primeiro ano.

Conclusões
Com o envelhecimento da população o desenvolvimento de FA é cada vez mais prevalente, culminando numa maior a taxa de complicações associadas. Nesta amostra verificamos uma população idosa e reduzido número de doentes hipocoagulados na alta. Apesar da maioria ter contraindicações descritas, o risco de queda foi sobrevalorizado como motivo isolado para a decisão de não hipocoagular, que vai contra as recomendações atuais. Pretendemos chamar a atenção para a importância da sistematização na abordagem destes doentes, de modo a prevenir complicações da doença.