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QUANDO O PRINCIPAL SUSPEITO NÃO É O CULPADO…
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P216 - Resumo ID: 832
Hospital Lusíadas Lisboa
Sofia Marques Santos, Eduarda Comenda, Nadine Monteiro, Ana Ramalho, Cláudia Jesus, Filipa Moleiro, Helena Vitorino, Mário Barbosa, Helena Cantante
Introdução: A diarreia crónica, definida como diminuição da consistência das fezes e aumento da sua frequência com duração superior a 4 semanas, pode afetar cerca de 4 a 5% da população ocidental. A sua investigação pode ser morosa, devido às inúmeras causas que podem estar subjacentes, devendo sempre ser obrigatório o despiste de causas farmacológicas.
Caso clínico: Os autores descrevem o caso de um homem de 69 anos, melanodérmico, com história pessoal conhecida de hipertensão arterial essencial e diabetes mellitus tipo 2 (diagnóstico recente, bom controlo glicémico). Encontrava-se medicado em ambulatório com ácido acetilsalicilico, metformina + sitagliptina, olmesartan e lercanidipina. Recorre ao hospital por diarreia sem sangue, muco ou pús, com um mês de evolução (3 episódios/dia) e foi internado por creatinina de 5,4mg/dL e ureia de 109mg/dL. Já tinha colhido coproculturas (negativas) e realizada colonoscopia (sem alterações). No internamento foi suspensa a sua medicação, com total resolução do quadro e recuperação da função renal. Foi admitida diarreia secundária à metformina (tinha iniciado a mesma 2 meses antes), suspensa esta medicação e iniciada linagliptina. Reavaliado 12 dias após a alta, com creatinina de 1,4mg/dL e perfil tensional elevado, pelo que se reintroduziu olmesartan (em dose menor). Dez dias depois, reinicia quadro de diarreia líquida com 6 dejeções diárias. Analiticamente com creatinina de 4,4mg/dL, ureia 74mg/dL e pH 7,03 (com bicarbonato de 6mmol/L). Transferido para a unidade de cuidados intensivos, onde iniciou técnica dialítica contínua (que cumpriu durante 5 dias). Entre os vários exames realizados destaca-se a endoscopia digestiva alta, cuja biópsia duodenal revelou alterações inflamatórias crónicas, compatíveis com duodenite crónica inespecífica, com aumento da linfocitose intraepitelial. Feito estudo serológico da doença celíaca, que foi negativo. Reintroduziu-se medicação prévia à exceção do olmesartan, admitindo-se o diagnóstico de enteropatia secundária ao olmesartan. Não foi feita restrição de glúten e após 20 meses de seguimento, não houve qualquer recidiva do quadro.
Conclusão: A enteropatia associada ao olmesartan está associada a diarreia em abundante quantidade e alterações anátomo-patológicas semelhantes à doença celíaca. A incidência desta reação adversa não está completamente determinada, embora seja considerada rara. Os autores pretendem alertar para este efeito do fármaco, possibilitando um rápido reconhecimento desta patologia e atuação atempada.