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ENDOCARDITE E AVC – QUANDO A CAUSA NÃO É INFECCIOSA
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P720 - Resumo ID: 848
Hospital São Francisco Xavier - Centro Hospitalar Lisboa Ocidental
Marco Fernandes, Maria João Correia, Laurete Conceição, Catarina Araújo Faria, Nuno Ribeiro Ferreira, Teresa Mesquita, Luís Campos
INTRODUÇÃO
A endocardite trombótica não bacteriana é uma entidade rara que corresponde a um espectro de lesões não infecciosas das válvulas cardíacas caracterizada pela deposição de trombos plaquetários estéreis ao nível das estruturas valvulares (tipicamente aórticas ou mitrais). Ocorre mais frequentemente entre a 4ª e 8ª décadas de vida, sem preponderância de género. Em 80% dos casos ocorre em contexto neoplásico, podendo também estar associada ao lúpus eritematoso sistémico, síndrome do anticorpo fosfolipídico, artrite reumatoide e sépsis. Dentro das causas neoplásicas, a mais frequente é o adenocarcinoma pancreático (10%). Os doentes são geralmente assintomáticos, não apresentam febre e menos de 50% apresentam sopro cardíaco. As manifestações clínicas resultam mais da embolização sistémica (50% dos casos) do que da disfunção valvular.

CASO CLÍNICO
Sexo masculino, 47 anos, sem antecedentes pessoais relevantes. Admitido no Serviço de Urgência por défice motor esquerdo com mais de 8 horas de evolução. Hemodinamicamente estável, apirético. Emagrecido, ictérico. Pontuava NIHSS 14 por clínica de lesão parcial do território da artéria cerebral média direita. Realizou TC-CE, que revelou enfarte isquémico recente frontotemporoparietal direito e angio TC-CE, que demonstrou oclusão distal de M1 à direita. Sem indicação para terapêutica de fase aguda. Analtiticamente apresentava anemia normocítica normocrómica (Hb 10.4 g/dL, VGM 94 fL, CMHG 338 g/L), leucocitose 12.0 com neutrófilos 77.9%, trombocitopénia (106 x 10^9/L), hiperferritinémia (1090 ng/mL), padrão de citocolestase (AST 153 U/L, ALT 257 U/L, FA 1024 U/L, GGT 1011 U/L), PCR 4.2 mg/dL, serologias VIH, VHB, VHC negativas, procalcitonina negativa. Realizou ecocardiograma transtorácico, que evidenciou duas imagens nodulares de pequenas dimensões na válvula aórtica na face aórtica da cúspide não coronária suspeitas de vegetações, confirmadas por ecocardiograma transesofágico. Iniciou antibioterapia empírica com vancomicina e gentamicina, sem resposta clínica ou analítica. Sem isolamento de agente nas hemoculturas seriadas. Realizou TC-TAP que revelou imagem sugestiva de neoplasia do pâncreas com metastização pulmonar e hepática.

DISCUSSÃO
A etiologia infecciosa foi admitida como menos provável, tendo em conta a ausência de clínica típica de endocardite infecciosa, a elevação somente ligeira dos parâmetros inflamatórios sem resposta à antibioterapia empírica instituída, procalcitonina negativa, a ausência de isolamento de agente nas hemoculturas, bem como a ausência de destruição valvular significativa.
Os autores assumiram o diagnóstico de endocardite trombótica não infeciosa, associada a neoplasia pancreática.
Pretendemos com este caso expor um subgrupo raro de endocardite complicada com AVC isquémico, na sequência de embolização distal.