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O ECOCARDIOGRAMA NA AVALIAÇÃO DA DOENÇA CEREBRAL VASCULAR: UMA ANÁLISE RETROSPECTIVA
Doenças cardiovasculares - Comunicação
Congresso ID: CO173 - Resumo ID: 850
Serviço de Medicina 2.1, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Daniela Guerreiro Carneiro, Inês Urmal, Ana Bravo, André Grazina, Beatriz Barata, Pedro Mesquita, Rosário Eça, Helena Estrada, Mário Alcatrão
Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) é uma importante causa de morbimortalidade nos países industrializados. O embolismo cardíaco é responsável por 15% a 40% dos AVC isquémicos (AVCi), enquanto 30% a 40% são classificados como de causa indeterminada. O ecocardiograma transtorácico (ETT) tem um papel essencial na avaliação, diagnóstico e abordagem dos AVC cardioembólicos e de etiologia desconhecida, estando o seu uso indicado em doentes cujo resultado possa guiar a decisão terapêutica.

Material e métodos: Os autores apresentam um estudo restrospectivo sobre a utilização e rentabilidade do ETT em doentes internados na enfermaria de Medicina com AVCi e acidente isquémico transitório (AIT), no ano de 2018. O objetivo da análise é avaliar a modificação da atitude terapêutica com base no achado ecocardiográfico, para otimizar a indicação clínica para a realização do ETT em internamento, segundo a etiologia da doença cerebral vascular (DCV).

Resultados: Foram analisados 92 doentes com AVCi/AIT, sendo 38% (35) de causa indeterminada, 28% (26) cardioembólicos, 12% (11) por aterosclerose de grande vaso e 22% (20) por doença de pequenos vasos. Nos de causa indeterminada, 91% teve indicação para ETT, que não foi realizado em 28% dos casos. A dilatação da aurícula esquerda (DAE) foi o principal achado no ETT (23%), sendo que em 71% não se registou alteração sugestiva de fonte cardioembólica. No AVC cardioembólico considerou-se que todos tinham indicação para ETT, sendo que em 45% dos casos não foi realizado em internamento e destes, 70% não estava previamente hipocoagulado. A alteração mais frequente foi novamente a DAE (31%) e em 65% dos ETT não se identificou fonte cardioembólica. O AVC por doença de pequenos vasos teve indicação de ETT em 10% dos casos, em que a revisão imagiológica sugeria eventos isquémicos múltiplos de cronicidade diferente. No entanto, 22% daqueles que não tinham indicação, realizaram o exame. Não foram encontradas alterações ecocardiográficas relevantes. Nos casos de etiologia aterosclerótica de grande vaso, 64% teve indicação de ETT em internamento e destes 86% fizeram o exame; 27% dos ETT registaram DAE, sendo a única alteração encontrada.
A alteração ecocardiográfica mais frequentemente encontrada em todos os ETT realizados (48) foi a dilatação da aurícula esquerda (22%), com uma frequência semelhante o aneurisma do septo, a calcificação do anel mitral e a acinesia segmentar (3%). 71% dos ETT não mostraram alteração sugestiva de fonte cardioembólica.

Conclusão: Os achados no ETT não modificaram a atitude terapêutica em nenhum dos casos revistos, por não se documentar uma fonte com alto potencial embólico, que justificasse, por si só, a instituição de hipocoagulação.
O recurso à ecocardiografia na DCV deve ser criteriosamente avaliado, tendo em conta a convicção clínica e imagiológica de fonte cardioembólica, visando a necessidade de hipocoagulação do doente.