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NÃO É SÓ MAIS UMA NEUTROPENIA FEBRIL – UM RARO CASO DE AGRANULOCITOSE INDUZIDA POR FÁRMACOS
Doenças hematológicas - E-Poster
Congresso ID: P343 - Resumo ID: 84
Hospital da Senhora da Oliveira - Guimarães, Serviço de Medicina Interna
Ana Luísa Campos, Carla Carneiro, Laura Castro, Jorge Cotter
Introdução: A agranulocitose idiossincrática induzida por drogas (IDIA) ou neutropenia severa aguda caracteriza-se por contagens de neutrófilos Descrição do caso clínico: Género feminino, 37 anos. Antecedentes pessoais de artrite psoriática, sob tratamento com metotrexato desde há 1 ano e com salazopirina recentemente acrescentada à terapêutica (~1 mês antes). Observada no Serviço de Urgência por febre e sinais inflamatórios das regiões interdigitais e face dorsal de ambos os pés. Ao exame físico: doente febril, com lesões herpéticas nasolabiais e sinais compatíveis com micose interdigital e celulite de ambos os pés. Dos exames complementares de diagnóstico no Serviço de Urgência: bicitopenia (anemia – Hb 11.1 g/dL e neutropenia absoluta – 0.0x103/µL, com agranulocitose e 0.0x103/µL de granulócitos imaturos, contagem confirmada pelo patologista clínico que informa que não é visível qualquer forma imatura na lâmina); parâmetros inflamatórios aumentados, com PCR de 256 mg/L. Realizado aspirado medular e imunofenotipagem: amostra moderadamente hipocelular, com redução marcada da relação série mielóide/eritróide, não tendo sido observado nenhum neutrófilo nem nenhum metamielócito, com linfócitos (47.1%) e plasmócitos (7.7%) de morfologia normal; linha granulocítica (<1% da celularidade total), com características fenotípicas normais. Ficou internada sob antibioterapia de largo espectro com meropenem + vancomicina, com imediata suspensão do metotrexato e da salazopirina. Verificou-se boa evolução clínica e analítica, encontrando-se à data de alta já com 2.3x103/µL neutrófilos, 0.2x103/µL mielócitos e 1.5x103/µL metamielócitos, e com quadro infeccioso resolvido.
Discussão: O grande critério de diagnóstico de IDIA, que se cumpre no caso clínico desta doente, é a completa recuperação hematológica após suspensão das drogas causadoras. Todas as drogas podem cursar com IDIA. Neste caso em particular, não podemos excluir a hipótese de estarmos perante uma reacção de mielotoxicidade tardia ao metotrexato. O uso concomitante de outras drogas é um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de mielotoxicidade secundária ao metotrexato, embora não pareça afetar a severidade da doença, o que poderá explicar a mielotoxicidade abrupta nesta doente após a introdução da salazopirina. A suplementação com ácido fólico e a monitorização frequente das contagens celulares são portanto fundamentais nos doentes sob esta terapêutica.