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NEUROSSÍFILIS... A GRANDE IMITADORA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P570 - Resumo ID: 864
Hospital de Santa Maria CHLN
Jancar Nina, Colaço Inês, Gonçalves Filipa, Aguiar Patrício, Ducla Soares José Luís
Introdução: a neurossífilis é uma das manifestações clínicas da infeção causada pelo Treponema pallidum, conhecida na história médica como a grande imitadora. Os exames de imagem são importantes para o diagnóstico, mas não existem achados imagiológicos patognomónicos de neurossífilis.
Caso clínico: doente do sexo feminino, 64 anos de idade, com antecedentes médicos conhecidos de hipertensão arterial e síndrome depressivo, internada por quadro clínico, com cerca de dois meses de evolução, caracterizado por períodos de confusão, desorientação e alteração do traço mnésico, que se haviam agudizado nas duas semanas prévias ao internamento e se fizeram acompanhar por cefaleia holocraneana, otalgia, epigastralgia episódica e metrorragias “de novo”. A natureza progressiva do quadro motivou a realização da tomografia compoturizada (TC) – crânio-encefálica (CE) em ambulatório, que revelou lesões principalmente dos lobos temporais, compatíveis com lesões de natureza secundária. À admissão a doente encontrava-se desorientada, verborreica, com discurso desconexo, com parafasias e alucinações visuais e auditivas. Na avaliação complementar salientavam-se apenas anemia normocítica/normocrómica (Hb 11.9g/dL) e TC-CE sobreponível ao exame anteriormente realizado em ambulatório.
Dado o síndrome confusional e a possibilidade de doença neoplásica, a doente realizou exame ginecológico com ecografia pélvica, TC tóraco-abdómino-pélvica, ecografia tiroideia e avaliação da função tiroideia, da vitamina B12 e folatos, de serologias infeciosas virais e do perfil autoimune, que não revelaram alterações. Foi realizado ainda EEG, que excluiu atividade epilética.
Para melhor caraterização das lesões do Sistema Nervoso Central realizou ressonância magnética (RM)-CE, que mostrou lesões extensas da substância branca subcortical das regiões bi-temporo-polares envolvendo também as regiões do hipocampo e temporais mesiais, com extensão às cápsulas externas, ao corpo caloso e dispersas na região frontal lesões sem efeito de massa, sugestivas de CADASIL, encefalite autoimune / límbica ou leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP).
A punção lombar mostrou pleocitose linfocítica (20.8/mm3), aumento das proteínas (49.7mg/dl) e aumento da imunoglobulina G (128mg/dL) no líquido cefalorraquidiano, bem como RPR reativo. Os exames microbiológicos e as outras serologias no líquor foram negativas, tal como a pesquisa de mutações no gene NOTCH3, a pesquisa de vírus JC e a pesquisa de anticorpos antineuronais. A positividade dos testes treponémicos e não treponémicos no soro confirmaram o diagnóstico de neurossífilis. Foi iniciada terapêutica com penicilina G, objetivando-se melhoria clínica significativa.
Discussão: embora sejam importantes para confirmação do diagnóstico, os achados imagiológicos de neurossífilis são inespecíficos, podendo dificultar a investigação etiológica, pela sobreposição com outras entidades como o CADASIL, a encefalite autoimune e a LEMP.