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UMA PARASITAÇÃO CATASTRÓFICA- ESTRONGILOIDÍASE EM DOENTE IMUNODEPRIMIDO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P529 - Resumo ID: 884
Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central
Teresa Piteira, Rita Prayce, Helena Peres, Ana Messias, Maria José Piteira, Miguel Nunes, Vitor Lopes

A estrongiloidíase é uma infeção causada pela fêmea do nemátodo Strongyloides stercoralis (SS), sendo habitualmente assintomática. O seu ciclo de vida implica a migração da pele para o TGI e depois para os pulmões, e nos casos de hiperinfecção este ciclo de vida está exagerado, com aumento da velocidade do ciclo e do número de parasitas. Diz-se disseminada quando o nemátodo se encontra também fora dos tecidos habituais. Em doentes imunodeprimidos a infecção pode ser catastrófica, pelo aumento do risco síndrome de hiperinfecção e doença disseminada, conferindo elevada mortalidade. Apresentamos um caso clínico de estrongiloidíase num doente imunodeprimido, que ilustra a dificuldade do diagnóstico e tratamento desta infeção.

Homem de 66 anos transplantado renal sob terapêutica com tacrólimus e prednisolona, admitido em UCI por insuficiência respiratória global secundária a pneumonia da comunidade, com necessidade de ventilação mecânica invasiva. Por história recente de anorexia, diarreia sanguinolenta e dor abdominal com positividade sérica para CMV, assumiu-se inicialmente doença invasiva gastrointestinal a este agente, sendo medicado com ganciclovir, no entanto por suspeita de infeção por parasitas realizou coproculturas seriadas, conseguindo finalmente isolar-se na nona amostra SS. Foi simultaneamente realizado lavado bronco-alveolar, encontrando-se também o nemátodo. Apesar de ser medicado com ivermectina e ter apresentado melhoria do ponto de vista respiratório, evoluiu para coma, motivando colheita de LCR com PCR positiva para SS e isolamento de Enterococcus faecalis, assim como realização de ressonância magnética cranioencefálica com aspetos sugestivos de estrongiloidíase do sistema nervoso central e meninges.
Face aos achados, foi estabelecido o diagnóstico de meningoencefalite a SS com sobreinfeção bacteriana, em quadro clínico de estrongiloidíase disseminada com síndrome de hiperinfeção. Apesar da terapêutica otimizada (linezolide e albendazol) e suporte multiorgânico evoluiu desfavoravelmente, acabando por falecer.

Apesar da hiperinfeção e a infeção disseminada serem manifestações incomuns da estrongiloidíase, quando existem conferem elevada mortalidade. Nesse sentido é relevante recordar a existência deste parasita e as consequências graves que podem existir quando não pesquisado em casos de imunosupressão. O diagnóstico pode não ser linear pois nem sempre é encontrado em exame direto, como aconteceu aquando da análise do LCR do nosso doente. Não sendo um diagnóstico comum, é essencial um elevado grau de suspeita clínica acompanhado de pesquisa obstinada em múltiplos produtos, de forma repetida e por múltiplas vias, como a endoscopia, a biópsia ou a serologia.