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ABCESSOS HEPÁTICOS PIOGÉNICOS – QUANDO TUDO FALHA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P543 - Resumo ID: 887
Hospital Egas Moniz
José Pedro Cidade, Inês Fernandes Santos, Sara Casanova, João Carlos Furtado, Francisco Silva
Introdução – O abcesso hepático piogénico é uma doença rara mas grave sendo frequentemente originada por doenças das vias biliares e infecções pancreatico-esplénicas, entre outras.
A sua ocorrência enquanto manifestação de isquémia intestinal é rara, dependendo de um elevado índice de suspeição. A terapêutica assenta tradicionalmente na associação da antibioticoterapia à drenagem cirúrgica ou percutânea, esta última um factor preponderante no prognóstico e sobrevida.
A impossibilidade de abordagens invasivas impõe aos Internistas um desafio adicional, visto que o sucesso da terapêutica e outcome dependem exclusivamente de uma exaustiva intervenção e optimização farmacológica.
Caso Clínico - Doente 76 anos com história de cardiopatia isquémica, Diabetes Mellitus 2 insulinotratada e aneurisma extenso da aorta torácica e abdominal, com colocação prévia de 2 endopróteses e complicado de acidente isquémico medular.
Admitido por febre e dor torácica retroesternal e abdominal persistentes com alívio parcial a analgésicos, agravando com refeições e acompanhando-se de vómitos pós-prandiais tardios
À admissão febril, normotenso, normocárdico, eupneico, abdómen difusamente doloroso à palpação, indolor à descompressão e edema periférico. Analiticamente: leucocitose (20 200/uL) neutrofila e PCR 34.6mg/dL, com padrão de lesão hepático citocolestático (AST 112U/L; ALT 114U/L; FA 375U/L; GGT 340U/L; Bilirrubina T 0.48mg/dL e Lipase 7mg/dL). Sem alterações ao electrocardiograma e ao radiograma de tórax. A angio-TC revelou múltiplos abcessos com 9cm de maior diâmetro no segmentos VII e VIII hepáticos e enfartes subcapsulares esplénicos, além de pneumatose sem plano de clivagem com a 2ª porção do duodeno.
Perante estes achados sugestivos de disseminação microbiana via enteroportal, colocou-se a hipótese de isquémia subjacente do território celíaco, confirmada por novo exame, que comprovou deslocação de endoprótese aórtica e oclusão praticamente total do tronco celíaco. O aparecimento rápido de volumosa colecção abcedada desde fundo gástrico à fáscia pararenal anterior e goteira parietocólica direita, sob antibioticoterapia em doses convencionais, motivou tentativas de drenagem percutânea, sem sucesso por inacessibilidade anatómica. A recusa persistente do doente em intervenções cirúrgicas invasivas, impôs à equipa médica a necessidade da optimização constante da farmacocinética dos antibacterianos, em regime de internamento e ambulatório, por forma a conseguir remissão das lesões apresentadas e prevenção de novos eventos de translocação bacteriana intestinal, obtendo estabilidade clínica e sobrevida superiores a um ano.
Conclusão – A isquémia intestinal manifestada por abcessos abdominais é uma entidade rara e potencialmente fatal, cujos diagnóstico e terapêutica exigem abordagem multidisciplinar. Perante falência das modalidades terapêuticas invasivas eficazes, o Internista persiste como último reduto para a hipótese de sucesso na sobrevida destes doentes.