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HEPATITE E - UM DIAGNÓSTICO EXÓTICO
Doenças hepatobiliares - E-Poster
Congresso ID: P406 - Resumo ID: 891
Hospital Egas Moniz
José Pedro Cidade, Inês Fernandes Santos, Sara Casanova, João Carlos Furtado, Francisco Silva
Introdução: As hepatites virais são entidades nosológicas frequentes no dia-a-dia do Internista. Porém, a crescente globalização e importação de novos agentes, oriundos de remotas zonas endémicas, determinam um desafio adicional ao Médico na investigação etiológica e diagnóstico diferencial, face aos agentes clássicos e tradicionais.

Caso clínico: Doente do sexo feminino, 43 anos, vegetariana e consumidora de produtos de ervanária, sem antecedentes médico-cirúrgicos relevantes e sem consumo de álcool, estupefacientes fumados, inalados ou injectados, admitida por icterícia, náuseas, anorexia não selectiva e dor abdominal nos quadrantes superiores, tipo moínha e sem factores de alívio com 5 dias de evolução. Sem alterações recentes do trânsito intestinal ou características das dejecções. À admissão encontrava-se vigil, eupneica, hemodinamicamente estável e com dor difusa à palpação do hipocôndrio direito, sem Murphy vesicular ou sinais de irritação peritoneal. Sem lesões de coceira ou estigmas de doença hepática crónica. Do estudo destacava-se Hb 13.7g/dL, INR 1.4, PCR 1,58 mg/dL e padrão de lesão hepatocelular (Bilirrubina T 12.5 mg/dL, Bilirrubina Conj 8.2 mg/dL; ALT 2184 U/L, FA 88U/L, GGT 41U/L). A ecografia revelou fígado normodimensionado, ecogéneo mas com aumento inespecífico de ecogenecidade dos espaços portais, sem alterações bilio-pancreáticas ou esplénicas. As serologias para vírus das hepatites A, B e C foram negativas, bem como serologias para vírus da imunodeficiência humana, citomegálico e de Epstein-Barr. A marcha diagnóstica afastou introdução farmacológica recente, défices nutricionais ou doenças hereditárias de sobrecarga, bem como causas autoimunes. Não se excluindo toxicidade eventual, foi a valorização de uma estadia pregressa na Índia, 3 meses antes da admissão (no limite da data de incubação) que se revelou pivotal na realização de diagnóstico específico, confirmado pela serologia para vírus da Hepatite E.

Conclusão: O vírus da Hepatite E, endémico em regiões remotas, constitui uma etiologia rara, não sendo contudo de descurar no diagnóstico diferencial de infecções em doentes viajantes, ainda que a estadia não tenha sido recente. Pretende-se realçar a importância crescente que a integração de dados epidemiológicos na história clínica tem para o estabelecimento de diagnósticos infrequentes contudo cada vez mais actuais na realidade do Internista.