Hugo Raposo Inácio, Ana Brito, Daniela Marto, Salvador Morais Sarmento, Miguel Sousa Leite, Sofia Mateus, Dina Pita, Andreia Amaral, Marta Moitinho, Catarina Espírito Santo, Paulo Barreto, Catarina Salvado
Introdução: A maioria dos estudos epidemiológicos desenvolvidos em serviços de urgência (SU) centram-se no diagnóstico final, havendo poucos que abordam a relação entre queixa principal (QP) de apresentação e diagnóstico de saída. O projeto de investigação que propomos pretende fazer uma avaliação das QPs de maior interesse, com base na frequência e gravidade de apresentação, e os diagnósticos mais frequentes encontrados. Apresentamos aqui os resultados da primeira fase do estudo.
Objectivo: Identificar quais as QPs mais frequentes e que estão associadas a doentes mais graves, considerando o local de tratamento e o resultado ou destino.
Método: Estudo observacional retrospectivo, com inclusão de todos os doentes que recorrem a um serviço de urgência polivalente (hospital terciário) num período de 12 meses, e foram encaminhados para observação pela especialidade Medicina Interna. Consideramos como QP o fluxograma escolhido no momento da triagem – utilizando o protocolo de Manchester. Foram considerados doentes graves todos os que cumpriram pelo menos um dos seguintes critérios: admissão na sala de reanimação ou unidade de observação; internamento em unidade de cuidados intensivos ou intermédios; óbito no SU.
Resultados: Em 12 meses foram observados 149 761 doentes, 69 802 dos quais encaminhados à Medicina Interna (46%). Considerando este subgrupo de doentes e os 15 fluxogramas mais frequentes, foram incluídos 65 307 doentes (91%). Dados gerais: idade 55+/-22 anos (média, dp); sexo feminino 56%; triagem laranja 8%, triagem amarela 44%, triagem verde 45%; tempo médio de permanência no SU 8+/-16 horas; internamento qualquer serviço 15%; doente grave 8%, sala reanimação 2%, sala observação 6%, internamento em UCI 1,6%, óbito no SU 0,4%.
Os 3 fluxogramas mais frequentes foram a indisposição no adulto 24%, dispneia 13% e dor torácica 10%. No conjunto representam 47% dos doentes. Os fluxogramas com maior gravidade relativa foram: convulsões 25%, estado de inconsciência/síncope 20%, palpitações 19%, dispneia 18%, indisposição no adulto 10% e dor torácica 9%. Por outro lado, os fluxogramas com valores mais baixos foram: erupções cutâneas 0.5%, embriaguez aparente 1% e problemas nos membros 1%. Os fluxogramas com maior frequência relativa de internamento foram dispneia 36%, estado de inconsciência/síncope 24%, indisposição no adulto 22%, convulsões 17%, dor abdominal 12% e dor torácica 11%.
Conclusão: As diferenças na frequência, internamento e gravidade da QP do doente que se apresenta no SU, devem ser consideradas na organização do serviço e na preparação dos profissionais. Na próxima fase do projecto pretendemos estudar as QPs mais relevantes de forma individualizada.