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DIARREIA INFLAMATÓRIA E INTESTINO SEM ALTERAÇÕES
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P235 - Resumo ID: 913
Hospital Lusíadas Lisboa
Ana Ramalho, Nadine Monteiro, Cláudia de Jesus, Filipa Moleiro, Helena Victorino, Maria Eduarda Comenda, Mário Barbosa, Sofia Marques Santos, Helena Cantante
Introdução:A diarreia crónica é uma entidade multifactorial, dificultando muitas vezes o seu diagnóstico. Dentro das diarreias inflamatórias a colite microscópica é muitas vezes esquecida,
apresentando uma incidência entre 2.0 e 10.8 em 100,000 por ano. De entre as colites microscópicas a colite colagenosa(CC) é mais prevalente nas mulheres que a linfocítica.
Caso Clínico:Mulher de 50 anos, caucasiana, história de carcinoma ductal invasivo da mama (estadio IIA), hiperaldosteronismo primário, sob tamoxifeno, esomeprazol, ácido acetilsalicílico, paroxetina e nebivolol. Recorre ao Serviço de Urgência por diarreia com 6 meses de evolução - > 6 dejeções/dia sem sangue, muco ou pús, acompanhada de dor abdominal difusa tipo cólica. Sem outra sintomatologia ou contexto epidemiológico relevante. O quadro supramencionado condicionou 4 internamentos, destacando-se destes o isolamento de Campilobacter spp em coprocultura, tendo feito antibioterapia dirigida com melhoria transitória dos sintomas. No decorrer da investigação prévia à atual admissão destacava-se: hipocalcémia com hiperparatiroidismo secundário, prova de jejum de 48h com manutenção da diarreia, Calprotectina fecal elevada (1110mg/Kg), colonoscopia, endoscopia digestiva alta (com biópsias) e vídeo-capsula endoscópica, sem alterações, tomografia computorizada e ressonância magnética abdominal e pélvica sem alterações, pesquisa de anticorpos anti gliadina (Imunoglobulina A), anti transglutaminase tecidular (Imunoglobulina A), Anticorpos antinucleares e Anticorpos anti citoplasma de neutrófilos (ANCAs) negativos. Feitas ainda provas terapêuticas com enzimas pancreáticas, anti-espasmódicos e modificações dietéticas, sem resposta. À admissão encontrava-se emagrecida e com desconforto generalizado à palpação abdominal. Analiticamente destacava-se: Creatinina 1.72 mg/dL, AST 47 UI/L, ALT 92 UI/L, GGT 185 UI/L, Proteina-C-Reativa 3.15mg/dL, Velocidade de Sedimentação 64 mm/h e Albumina 2.8 mg/dL.
No internamento repetiu coprocultura com isolamento de Aeromonas hydrophila, tendo realizado terapêutica dirigida com Ciprofloxacina. Repetiu também colonoscopia com biópsias no ileon, cego, cólon transverso e sigmóide, com aspetos morfológicos compatíveis com CC. Iniciou Budesonido oral 9mg/dia, durante 4 semanas, com melhoria do quadro. Suspendeu fármacos que poderiam estar relacionados com o desenvolvimento da patologia (esomeprazol, ácido acetilsalicílico, paroxetina e nebivolol). Manteve seguimento em consulta, sem recorrência da diarreia.
Conclusão:A CC é uma causa importante de diarreia crónica aquosa, não sanguinolenta, que não deve ser esquecida. Este caso demonstra a dificuldade no diagnóstico duma entidade em que os exames endoscópicos podem não manifestar alterações macroscópicas e em que os exames complementares analíticos e imagiológicos são frequentemente normais. É essencial estarmos alerta para esta patologia, sendo necessária a realização de biópsias em tecido intestinal aparentemente normal.