Ana Ramalho, Sofia Marques Santos, Cláudia de Jesus, Filipa Moleiro, Helena Victorino, Maria Eduarda Comenda, Mário Barbosa, Nadine Monteiro, Helena Cantante
Introdução: A pneumonia eosinofílica (PE) enquadra-se num grupo heterogéneo de doenças caracterizadas pela presença de eosinófilos a nível pulmonar, associado a infiltrados. A etiologia é variada, sendo subdividida em causas primárias (idiopática) e secundárias. A PE crónica idiopática é uma entidade rara, afetando principalmente mulheres na 4ª e 5ª década de vida.
Caso clínico: Relata-se o caso de uma doente de 44 anos, caucasiana, com história de síndrome depressiva, enxaqueca, rinite alérgica, sem hábitos tabágicos. Medicada com venlafaxina, bromazepam e rupatadina. Com tosse seca, febre e cansaço com 4 semanas de evolução. Avaliada previamente em ambulatório, assumido diagnóstico de infeção respiratória e medicada com azitromicina e amoxicilina/ácido clavulânico, sem qualquer melhoria, pelo que recorre ao serviço de urgência. Ao exame objetivo encontrava-se febril (38.1ºC), com saturação periférica de 92% em ar ambiente, taquicardica (124 batimentos por minuto). À auscultação pulmonar com roncos e sibilos bilateralmente e prolongamento do tempo expiratório. Analiticamente com leucocitose de 11 x10^9/L e eosinofilia (4.78 x10^9/L; 41.9%), proteína c reativa de 7.79 mg/dL e velocidade de sedimentação de 54 mm/h. Gasimetria arterial pH 7.43; paCO2 37 mmHg; paO2 53 mmHg; HCO3- 25.3 mmol/L; Lactato 0.9 mmol/L. O radiograma tórax mostrava hipotransparência ao nível do lobo superior direito. Decidiu-se internamento para estabilização e investigação.
Realizou tomografia computorizada do tórax que demonstrou marcada alteração da permeabilidade parenquimatosa pulmonar, bilateral, mais expressiva nos lobos superiores, com padrão em “vidro despolido”. Realizou broncofibroscopia com lavado bronco alveolar com 44% de eosinófilos, e citologia negativa para células neoplásicas. O exame bacteriológico e micológico foi negativo.
Da restante investigação salienta-se: Imunoglobulina E discretamente elevada (247 UI/mL), Anticorpos antinucleares e Anticorpos anti citoplasma anti-citoplasma de neutrófilos (ANCA) negativos, exame parasitológico de fezes negativo para ovos, quistos e larvas, vírus de imunodeficiência humana (HIV) 1 e 2 negativo, anticorpo anti-toxocara canis negativo, pesquisa de precipitinas de Aspergillus fumigatus negativa, pesquisa nas fezes de Cryptosporidium spp e Strongyloides spp negativa. A doente recusou realização de biopsia óssea e mielograma. Iniciou prednisolona 60mg/dia, com melhoria clínica e radiológica, sem eosinofilia após 1 semana de terapêutica. Sob corticoterapia durante 2 meses não apresentou recidiva do quadro após suspensão da mesma. Em ambulatório, iniciou quadro compatível com asma, controlada com fluticasona/vilanterol.
Discussão: Este caso relata uma doença rara, com maior incidência entre não fumadores, sendo acompanhada, precedida ou sucedida por asma em 50% dos casos. Apresenta um prognóstico favorável e excelente resposta aos glucocorticoides mesmo em caso de recorrência, daí ser imprescindível a sua identificação.